27/02/2009

Igreja semeia cultura de paz

Fonte: Diário do Nordeste / Cidade
 
Ver, julgar e agir. Essas são as bases fundamentais da Campanha da Fraternidade 2009, lançada oficialmente na manhã de ontem pelo arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio Aparecido Tosi Marques. Lado a lado, a fé, na figura de dom José Antônio, e a representação da segurança pública no Estado, o secretário Roberto Monteiro, alinharam o discurso na defesa da reflexão de uma segurança que deve ir além da força policial. Este ano, o tema da campanha é “Fraternidade e Segurança Pública” e o lema, “A paz é fruto da justiça”.

Na concorrida entrevista coletiva ocorrida no Centro de Pastoral Maria, Mãe da Igreja, dom José afirmou que a campanha não quer a justiça do “olho por olho, dente por dente”, ou seja, usar a força para tratar da violência. “Queremos trabalhar com um conceito de segurança que vai além da superficialidade. Vamos falar das muitas ‘seguranças’, como a familiar, a comunitária, a alimentar, a laboral, como formas de respeito à dignidade humana”.

Escolhida pelo povo depois de muitas reflexões e atividades em níveis local, estadual e até nacional, garantiu o arcebispo, a CF-2009, apresentada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com o desejo de que ela seja o grande esforço da Igreja para viver intensamente o tempo da Quaresma, sustenta-se em bases que prometem fazer pensar. Segundo o texto-base da campanha e o arcebispo, o “ver” se constitui a partir de uma apresentação da realidade como marco referencial. Por exemplo, o tráfico de drogas, a fome, a corrupção e outras frações da realidade vividas de fato pelas pessoas. O “julgar” incita a refletir sobre as causas e as conseqüências dessa realidade.

Com isso, a Igreja vai procurar, tendo como critérios as escrituras e a tradição, iluminar a realidade e mostrar os caminhos para que o reino de Deus aconteça na história humana. Em outras palavras, traçar as ações que a terceira e última parte do texto, que é o “agir”.

Cada comunidade, salientou dom José Antônio, vai dar a sua contribuição, com base na realidade local em que vive, para essa fraternidade na segurança pública. Por fim, a Campanha da Fraternidade vai se expressar concretamente pela oferta de doações em dinheiro na “Coleta da Solidariedade”. Todas as pessoas das comunidades eclesiais são convidadas a organizar o que a Igreja está chamando de “gesto concreto de solidariedade” durante a CF, que começou na quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma, e vai até o Domingo de Ramos, que antecede à Páscoa.

Do total arrecadado pela coleta, 40% constituem o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) da CNBB e os outros 60% ficam nas dioceses, para o atendimento a projetos locais. Para a campanha de 2008 em relação à região do Ceará, a coleta foi de R$ 112.143,52.

Integração

O secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Roberto Monteiro, disse que a pasta vai atuar na Campanha da Fraternidade 2009 participando das discussões com a Igreja. “Vamos levar policiais militares, delegados, bombeiros e demais autoridades para as reuniões com a Igreja a fim de que, nessas discussões, sejam ouvidos os pensamentos e as idéias daqueles que fazem a segurança pública”.

Ludmila Wanbergna
Repórter

O QUE ELES PENSAM
É preciso investir em capacitação

Não podemos perder a nossa capacidade de indignação, mas isso não significa usar a violência para tratar a violência. Os egressos do sistema penal já são bastante excluídos pela discriminação. Eles precisam de oportunidades. Vamos trabalhar a base, investir na educação, na saúde, na capacitação

Marcos Cals
Secretário de Justiça e Cidadania

O Ministério Público dá total incentivo à Igreja nessa campanha. Uma bela oportunidade para refletir sobre as grandes questões que permeiam a segurança pública, como a situação do sistema penitenciário, que não pode ser visto como espaço de vingança estatal

Antônio Iran
Procuradoria Geral de Justiça