23/05/2012
Parlamentares do Nordeste e do Ceará vão pedir a prorrogação dos
incentivos fiscais do Imposto de Renda para empresas instaladas na
região. Legislação garante o abatimento de parte do imposto até 31 de
dezembro de 2013. Política de incentivos existe desde a década de 1960 e
agora é colocada em xeque pelo fim da "guerra fiscal"
Em pouco mais de um ano e meio, indústrias nacionais e multinacionais
que se instalaram no Ceará poderão deixar o Estado, extinguindo milhares
de empregos. Esse cenário ainda hipotético, que vale também para os
outros Estados do Nordeste, pode se tornar realidade com a perda dos
incentivos fiscais do Imposto de Renda (IR), previstos pela Lei 4.239,
de 1963, e alterados pela Lei 9.532, de 1997, que ficará sem validade a
partir de 1º de janeiro de 2014. Para evitar o problema, parlamentares
cearenses e do Nordeste se articulam pela prorrogação desses incentivos.
Segundo o economista e professor universitário Firmo de Castro, o
problema surgiu com a alteração da legislação sobre os incentivos, em
1997, no governo Fernando Henrique Cardoso, que estabeleceu um
cronograma de redução dos incentivos.
“Os incentivos fiscais representam a base de toda a política industrial
desde os anos 1960. De início, havia a isenção total do Imposto de
Renda. No decorrer do tempo, essa isenção foi reduzida”.
Com as modificações na legislação, a isenção foi de 75%, de 1º de
janeiro de 1998 a 31 de dezembro de 2003; depois de 50%, no período de
2004 a 2008; e de 25%, de 2009 a 2013.
Relator de um dos projetos que preveem a prorrogação dos incentivos, o
senador Wellington Dias (PT-PI) considera que é possível estender os
benefícios por cinco anos. Para ele, no entanto, é preciso focar também
em outras ações para que o problema da “guerra fiscal” entre os Estados
termine.
“O ponto principal é a garantia de uma política com fundo de
investimento mais robusto. Por isso, tenho trabalhado na proposta de
junção do FNE (Fundo Constitucional do Nordeste) com o FDNE (Fundo de
Desenvolvimento do Nordeste), o que passa pela necessidade de
capitalização do Banco do Nordeste (BNB)”, diz.
Para o deputado federal Antonio Balhmann (PSB-CE), coordenador da
bancada cearense na Câmara, cinco anos é pouco, “mas temos que matar um
leão por vez”. “Para resolver essa situação, somente com uma reforma
tributária profunda”, afirma.
Já Firmo de Castro acredita que o problema não deve ser resolvido com
reforma tributária, porque esse não é um mecanismo apropriado para fazer
política regional. “Estou sugerindo ao deputado Danilo Forte (PMDB),
relator da Medida Provisória 564/12 (que trata sobre o fim da
exclusividade da operação do FDNE pelo BNB), que apresente uma emenda
solicitando a prorrogação dos incentivos até 2023, porque a tramitação é
mais rápida que um projeto de lei”.
ENTENDA A NOTÍCIA
O uso de incentivos fiscais tem sido a principal arma para a atração de
investimentos privados para a região Nordeste desde a década de 1960.
Sem a renúncia de impostos, será necessário mudar a política de
desenvolvimento, de forma a tornar a região mais atraente.
Para Guimarães, é preciso mudar a política de desenvolvimento da região
Apesar de concordar com a proposta do senador Wellington Dias (PT-PI)
de pedir a prorrogação dos incentivos fiscais do Imposto de Renda (IR)
para o Nordeste, o deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), coordenador da
bancada do Nordeste na Câmara, acha necessária uma mudança na política
de desenvolvimento regional. “Não devemos mais patrocinar a guerra
fiscal, mas fazer com que sejam construídos no Nordeste parques
industriais e de inovação. Porque esse tipo de incentivo não dá
sustentabilidade.”
Além disso, Guimarães diz que é necessário fortalecer organismos
regionais como a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene), o Banco do Nordeste (BNB), o Departamento Nacional de Obras
contra as Secas (Dnocs) e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do
São Francisco e Parnaíba (Codevasf). “Não dá mais para tratar a região
de forma emergencial”, disse.