21/03/2017

Sintaf promove seminário para marcar o Dia Internacional de luta das Mulheres

                    

“Mulher, resistência e luta” foi o tema do seminário alusivo ao Dia Internacional da Mulher, realizado pelo Sintaf na manhã da última quinta-feira (16/3), no auditório da Sefaz. O objetivo foi discutir o impacto da reforma da previdência na vida das mulheres e as lutas do movimento feminista no Ceará. 

Na abertura, a vice-presidente da AAFEC, Maria do Carmo Serra Azul (Mariazinha), apontou que hoje, no Brasil, vivendo tempos sombrios que nos exigem resistência. “São mulheres e transgêneros que morrem frequentemente, vítimas da discriminação. Precisamos estar cada vez mais juntos para enfrentar isso”, conclamou. o diretor de Organização do Sintaf, Lúcio Maia, enalteceu o importante papel das mulheres na sociedade, a exemplo das servidoras fazendárias, que cuidam das finanças do Estado. “Apesar dos avanços, ainda há muita discriminação”, ressaltou.  

Em sua fala, a diretora técnico-científica da Fundação Sintaf, Germana Belchior, afirmou o quão é importante reafirmar o protagonismo feminino no mundo atual. “O evento de hoje é uma oportunidade para refletirmos sobre o nosso papel como mulher no enfrentamento das questões sociais, humanas e políticas que se apresentam”. A Já a coordenadora de Marketing da Cafaz, Veruska Marinho, elogiou as mulheres por suas lutas e conquistas, reforçando, no entanto, que elas não se esqueçam de cuidar da própria saúde, de forma preventiva.

                         

 

Palestras

A primeira palestra foi centrada no tema “Reforma da Previdência do (DES)governo Temer e os Impactos na Vida das Mulheres”, com Ana Maria Cunha, servidora fazendária, diretora do Sintaf Ceará e coordenadora do Fórum Unificado das Associações e Sindicatos dos Servidores Públicos Estaduais (Fuaspec). Em sua fala, Ana Maria alertou que ainda hoje as mulheres sofrem preconceito de diversas formas, muitas vezes sutil. A presença da mulher nos espaços de poder, como os partidos políticos e sindicatos, ainda é muito pequena. No que se refere à reforma da previdência, a diretora ressaltou que a proposta apresentada é um grande ataque à classe trabalhadora, especialmente às mulheres. “O objetivo é entregar a nossa aposentadoria para a iniciativa privada. Mas o povo está reagindo. Só através da luta poderemos reverter esse grande ataque”, afiançou.

 

A segunda palestra abordou as “Mulheres em privação de liberdade”, com Sarah Menezes, integrante do Instituto Negra do Ceará (Inegra), membro do Fórum Cearense de Mulheres e da Articulação de Mulheres Brasileiras. Em sua explanação, Sarah falou sobre o trabalho do Inegra, com ações voltadas às mulheres negras, da periferia, e quilombolas, que há dois anos voltou-se para as mulheres encarceradas. Sarah afirmou que o Brasil é o 4º país do mundo em população carcerária – são 650 mil encarcerados. Destes, 34 mil são mulheres. “O encarceramento feminino cresceu mais de 500% do ano 2000 para os dias atuais. A cada três mulheres que estão sendo presas, duas são negras”, apontou. Mas por que se prendem tantas mulheres? “O encarceramento é resultado de uma sociedade racista, classista e machista”, reforçou. “A maioria está presa por tráfico ou suposto envolvimento com o tráfico de drogas”. A palestrante criticou veementemente a política de encarceramento, que lota os presídios do País sem garantir dignidade às pessoas. “Isso não é perspectiva de justiça. O aprisionamento não resolve. A questão fundamental é a educação”, concluiu. 

                          

A terceira palestra manhã, “O Estatuto da Igualdade Racial e a Inclusão Social das Mulheres de Terreiro”, contou com a participação de Patrícia Matos, pedagoga, consultora pedagógica, escritora e percussionista. Em sua fala, Patrícia enfatizou que o terreiro é a reconstrução da família africana que foi esfacelada. “Por isso existe o pai de santo, a mãe de santo...”, explicou. “E em meio à luta pelo respeito à nossa identidade, nasceu o Estatuto da Igualdade Racial. No entanto, ainda sofremos muita discriminação. O Ceará é o 4º do Brasil em denúncias de intolerância religiosa”, salientou. Em sua exposição, Patrícia Matos discorreu ainda sobre diversas iniciativas desenvolvidas dentro do terreiro para as crianças e jovens, a exemplo do projeto “Trançadas e cacheadas”. “A sociedade tem a sua democracia fortalecida quando a gente acessa direitos, quando valorizamos de nossa história”.

 “A trajetória e a situação da mulher quilombola”, foi a quarta palestra, com Cláudia de Oliveira da Silva, coordenadora da Caravana Cultural Quilombola de Caucaia. A educadora ressaltou que o Ceará possui 74 comunidades quilombolas identificadas pela Comissão Estadual dos Quilombolas Rurais do Ceará (CEQUIRCE). “Ainda hoje as mulheres lideram grande parte das lutas, principalmente nas comunidades quilombolas”. Símbolo de resistência, a população quilombola lembra que o patriarcado só honra a existência e a história dos homens. Para ela, as mulheres precisam ter força e coragem para superar a invisibilidade diante do machismo. “Estamos lutando para o empoderamento das mulheres e pela sustentabilidade das comunidades no cenário local e nacional. Não podemos lutar apenas pelo momento atual, mas para as futuras gerações”, enfatizou.

Ao final do evento, a diretora adjunta de Assuntos Culturais e Sociais do Sintaf, Yolita de Araújo e Sá, agradeceu aos participantes e homenageou as palestrantes com flores. Na oportunidade, ela lamentou que um seminário de tamanha riqueza de debates tenha tido uma participação pouco expressiva das servidoras fazendárias. “O objetivo do Sindicato é trazer temas importantes para discussão, debates que irão impactar a nossa forma de ver o mundo”. A diretora dedicou o seminário a Dandara dos Santos, travesti torturada e morta no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, no último dia 15 de fevereiro.

 

Fonte: Sintaf/ Ce