18/05/2011

4o% dos transplantes de fígado são por hepatites

Fonte: Diário do Nordeste
 
Segundo Organização Mundial de Saúde, uma em cada 12 pessoas no mundo está infectada pela doença e não sabe

"Em 2002, fui fazer um check up na minha saúde e descobri que tinha hepatite C. O pior de tudo, é que eu já estava em um estado avançado de cirrose hepática e fui encaminhado para a fila de transplante de fígado", conta o ex- jogador de futebol e atual presidente da Associação Cearense de Pacientes Hepáticos Transplantados (ACEPHT), Wilton Ibiapina.

Esse caso é apenas um em centenas no Ceará. Para se ter uma ideia, somente no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), referência em transplantes de fígado no Brasil, dos 220 pacientes que estão na fila de espera por um transplante, 105 são portadores de hepatite B ou C, ou seja, 48% do total.

A unidade hospitalar, que hoje comemora nove anos realizando transplantes de fígado, já efetivou 549 cirurgias. Dessas, 220 foram em decorrência dos vírus da hepatite, o que significa 40% do total. Segundo a coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, atualmente, 265 pacientes estão à espera de um fígado no Estado e apenas três unidades realizam a cirurgia: HUWC, Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e Hospital São Carlos.

Os dados, apesar de serem assustadores, mostram uma realidade muitas vezes mascarada, pois as hepatites B e C são doenças assintomáticas e acabam se transformando em epidemias silenciosas, conforme o chefe do serviço de transplante de fígado do HUWC, Huygens Garcia. Segundo ele, amanhã, 19 de maio, é o Dia Mundial da Hepatite. Contudo, para ter o que comemorar é preciso reverter essa realidade.

Segundo a hepatologista Cinthia Viana, para os dois tipos de vírus existe cura e tratamento. Mas, para isso, o diagnóstico precoce é essencial. Ela explica que o exame de sangue é a maneira mais segura para saber se o indivíduo é portador do vírus. No caso da hepatite B existe uma vacina disponível pelo Ministério da Saúde e destinada a crianças e jovens até 24 anos.

Entretanto, para a hepatite C não há imunização então é preciso se prevenir para evitar complicações futuras. Conforme Cinthia Viana, na hepatite B o indivíduo é infectado através da relação sexual; utilização de instrumentos contaminados com sangue, como materiais de manicure, pedicure, barbeiro e tatuagens e durante o parto, se a mãe for portadora do vírus.

Na hepatite C, a transmissão também é feita pelo contato com sangue contaminado e por relação sexual.

Hepatite C

A coordenadora clínica de transplantes hepáticos do HGF, Ticiana Mota, ressalta que o vírus da hepatite C é um dos mais perigosos, pois o paciente pode passar entre 15 e 20 anos sem sentir nenhum sintoma. Além disso, 40% dos casos crônicos evoluem para uma doença mais grave, como cirrose hepática ou câncer de fígado.

Nos quatro primeiros meses deste ano o número de transplantes de órgãos realizados no Ceará foi 12,5% maior que o registrado no mesmo período de 2010. Entre janeiro e abril, foram 379, contra 337 do ano passado, segundo a Sesa. Em 2010, o Ceará ficou em sétimo lugar no País em número de potenciais doadores.

Fique por dentro
Teste de detecção

É muito importante que você realize o teste de detecção das hepatites B e C: se recebeu transfusão de sangue, antes de 1992; se usou drogas injetáveis ou inaladas, inclusive só uma vez, em qualquer época da vida; se alguém da família está infectado com alguma das hepatites; se nos últimos 12 meses teve vários parceiros sexuais; se você tem alguma doença sexualmente transmissível; se possui tatuagem ou piercing; se recebeu qualquer tipo de transplante de órgão ou de tecidos.

DOE DE CORAÇÃO
Bons índices revelam a importância da campanha

Uma boa atitude faz bem. É com este sentimento de solidariedade que a Fundação Edson Queiroz e a Universidade de Fortaleza (Unifor), com apoio do Sistema Verdes Mares, vem realizando, há mais de oito anos, a campanha Doe de Coração. A iniciativa estimula, através de ações educativas, a doação voluntária e consciente de órgãos.

A intenção é tentar diminuir a fila de espera por transplantes, disseminar boas práticas e continuar a elevar os índices de doadores em todo o Ceará. O resultado pode ser visto em cada sorriso no rosto dos milhares de pacientes já transplantados.

A ação não é nova, já está bem consolidada. Em 2003, a Fundação Edson Queiroz levantou a bandeira em favor da doação de órgãos no Ceará e, até hoje, só vem acumulando bons e satisfatórios resultados.

A campanha tem ganhado o mundo, extrapolado as barreiras e conquistado todo o Brasil. Milhares de pessoas já se sensibilizaram ao movimento que, hoje, é reconhecido nacionalmente pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos em prêmio concedido à Fundação Edson Queiroz. Ainda mais importante que isso é saber que foi estimulado um sentimento de amor que se traduz em um dos gestos mais grandiosos do ser humano: doar esperança de vida a quem está na fila de espera por um transplante de órgãos.

Os bons índices, cada vez mais positivos de aumento de doações no Ceará, revelam o crescimento e a importância do movimento Doe de Coração.

KARLA CAMILA
REPÓRTER