15/04/2009
Em meio a um cenário de crise, enquanto o setor produtivo se esforça na
tentativa de cortar custos e reduzir preços e o governo desonera diversos
segmentos da economia para estimular a produção e assegurar os empregos, os
consumidores cearenses terão a sua despesa com energia elétrica reajustadas a
partir do próximo dia 22. Ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
autorizou um aumento médio de 11,25% — quase o dobro do ano passado — nas
tarifas de energia cobradas pela Companhia Energética do Ceará (Coelce). Ao
todo, cerca de 2,7 milhões de clientes serão atingidos pelo aumento, nos 184
municípios do Estado.
Para o consumidor de baixa tensão, ou seja,
residências, pequenos comércios e propriedades rurais, o acréscimo será de
10,89% e de 12,11% para o comércio e a indústria, classificados como alta
tensão. O percentual médio autorizado pela Aneel chega a ser quase o dobro da
inflação do período (6,27%), calculada pelo Índice Geral de Preços de Mercado
(IGP-M), utilizado para o reajuste tarifário.
O aumento concedido para a
Coelce supera ainda o reajuste aprovado para três outras concessionárias do
Nordeste que também tiveram seus preços majorados ontem: Companhia de
Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), com 5,58% para baixa tensão e 6,82%
para alta; Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), com 6,01% e
9,63%, respectivamente; e Energisa Sergipe (antiga Energipe), com 9,39% e
11,78%, por sua vez.
Embora a Aneel tenha aprovado um aumento médio de
11,25% para as tarifas de energia elétrica cobradas pela Coelce, a companhia
havia solicitado um acréscimo médio de 19,16%, conforme antecipou com
exclusividade, na última sexta-feira o Diário do Nordeste. Segundo o gerente de
Regulação e Mercado da Coelce, José Caminha Araripe, o não atendimento do pleito
da distribuidora deve-se ao fato de que muitos dos componentes considerados pela
empresa para o reajuste solicitado, a exemplo do IGP-M e encargos setoriais,
ainda correspondiam a indicadores preliminares. “Ocorreram alterações nesses
indicadores e nas demais informações repassadas que resultaram em um índice
menor”, justificou.
Ainda de acordo com ele, o aumento aprovado pela
Aneel também foi menor que o solicitado pela Coelce, porque o órgão regulador
não considerou itens como a recomposição de custos com impostos, a exemplo da
recomposição dos custos com os tributos PIS/Cofins, de 1,01%; e a recomposição
dos custos devidos à não compensação do ICMS (Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços) futuro, de 1,254%.
Segundo a Aneel, o índice
médio de reajuste tarifário da Coelce foi calculado considerando-se um IGP-M
acumulado de 6,27%, do qual foi reduzido o fator X de 0,21% — redutor com o
objetivo de compartilhar os ganhos de produtividade da concessionária —
resultando em um percentual de 6,06%, aplicado para atualizar os custos
operacionais da empresa, o que contribuiu com um percentual de 2,63% na
composição final do aumento.
“Já o custo da compra de energia e o
referente aos subsídios de tarifas para consumidores residenciais, baixa renda e
rural irrigante contribuíram juntos com 7,84%”, acrescentou Caminha. Outro item
que impactou no aumento, disse, foi a variação dos custos dos encargos do setor
elétrico no percentual de 1,11%.
ANCHIETA DANTAS JR.
Repórter
O
QUE ELES PENSAM
Momento inoportuno
Não se concebe um aumento
de energia como esse enquanto todo mundo está baixando os preços e o governo
reduzindo as alíquotas dos impostos para estimular a produção, segurar como pode
os empregos e, assim, dinamizar a economia. Justo a energia que é um insumo
importante para grande parte da indústria e do comércio. Por conta disso, não
tenho dúvidas que poderemos ter uma nova onda de demissões, com o aumento dos
custos dessas empresas causado pela conta de luz. Este é um momento inoportuno
para aumentos dessa natureza. Vemos com total repúdio. A Coelce e a Aneel
deveriam se sensibilizar, como todos estão fazendo, para ajudar a combater os
efeitos dessa crise. O que fica claro é o poder de monopólio que existe no setor
de energia, pois o que vemos é que não se tem como evita esses aumentos. Afinal,
temos que consumir energia e o jeito é acabar pagando a conta. Acredito que a
sociedade deveria ser mais envolvida nessas questões.
Séptimus
Andrade
Presidente em exercício do Sindicato dos Lojistas de Fortaleza
(Sindilojas)
O aumento nas tarifas de energia elétrica praticadas
pela Coelce foi muito além da expectativa do setor empresarial do Estado, uma
vez que parte dos fatores considerados na composição do índice autorizado pela
Aneel — o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) — fechou o período em
questão em 6,27%. Infelizmente, a indústria cearense vai ter que arcar com essas
variações exorbitantes de preço, mesmo sabendo que para o cálculo do reajuste
foi considerado o volume de energia gerado por termelétricas, a preço
inflacionado pelo petróleo, cujo barril chegou a custar, no mercado
internacional, US$ 140. Esse reajuste nas tarifas de energia se refletirá em
diversos setores da indústria estadual, atingindo mais fortemente o setor
têxtil, onde o que se paga pela energia elétrica representa o equivalente a 25%
dos seus custos, sendo o segundo maior insumo desse segmento industrial,
perdendo apenas para os gastos realizados com a compra de matéria-prima.
Roberto Proença de Macêdo
Presidente da Federação das Indústrias
do Estado do Ceará (Fiec)