Fonte: Diário do Nordeste
Rio. A crise global abortou o maior ciclo de crescimento sustentado da
economia brasileira desde o Real e fez o PIB do País cair 3,6% no
último trimestre de 2008 na comparação livre de influências sazonais
com o terceiro trimestre. Foi o pior desempenho da atual série
histórica do IBGE, iniciada em 1996, e o resultado deve colocar o
Brasil numa recessão diante de sua forte magnitude. Apesar da freada
brusca no fim do ano, o PIB cresceu 5,1% em 2008, pouco menos que os
5,7% de 2007. A expansão seria bem mais vigorosa não fosse a crise: até
setembro, a taxa acumulada era de 6,4%. Em relação ao quarto trimestre
de 2007, o PIB subiu 1,3%, contra os 6,8% do terceiro trimestre.
Ruptura
´A
crise provocou uma ruptura no padrão de crescimento´, diz Rebecca
Palis, gerente das Contas Nacionais do IBGE. Já Roberto Olinto,
coordenador de Contas Nacionais, diz que houve uma ´desaceleração muito
forte´ e ´generalizada´ no último trimestre.
Mais enfáticos,
analistas se mostraram surpresos como a queda acima do previsto — de 2%
a 2,5% no último trimestre — e disseram que o País vive um período de
recessão.
´Esse resultado aborta um longo período de crescimento
vigoroso. Não fosse a crise, o Brasil cresceria na casa de 7% em 2008,
algo que não se via há muito tempo. Diante da magnitude da queda no
quarto trimestre e da perspectiva de retração no primeiro trimestre de
2009, fica claro que o país está em recessão. E não é uma recessão
trivial´, diz Sérgio Vale, da MB Associados.
Rogério César de
Souza, do Iedi, concorda: ´Certamente esse resultado mostra que o
Brasil já vive uma recessão e vai depender da evolução do mercado
interno para sair dela, já que o mundo conviverá por algum tempo com a
crise.´
Por causa do fraco desempenho do último trimestre,
economistas refizeram as previsões e já projetam um PIB próximo de zero
neste ano. Flávio Castello Branco, da CNI, reavaliou as estimativas de
alta de 2,5% em 2009 para zero para o PIB deste ano. ´A recessão é mais
severa e intensa do que se imaginava.´ ´O tombo da economia foi enorme.
Com os dados que já saíram fica muito difícil registrar uma taxa
positiva no primeiro trimestre, o que já coloca o país em recessão´,
concorda Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da SLW.
Intensidade da queda
Para
especialistas, a queda do PIB no quarto trimestre já era esperada, mas
veio numa intensidade muito maior do que o previsto — retração de 2% a
2,5%. Uma das surpresas negativas ficou por conta do consumo das
famílias — queda de 2% no quarto trimestre. Do lado da produção, o
destaque negativo ficou com a indústria, que recuou a taxa recorde de
7,4% no último trimestre de 2008, abalada pelos efeitos da crise sobre
setores como veículos (e sua cadeira de fornecedores), siderurgia e
material eletrônico. Serviços e agropecuária sentiram menos, e recuaram
0,4% e 0,5% no quarto trimestre.
Sob a ótica da demanda, os
investimentos sentiram mais o baque e caíram 9,8% no quarto trimestre,
após longo ciclo de forte expansão.