11/03/2009

Crise quebra expansão do PIB e indica recessão

Fonte: Diário do Nordeste
 
Rio. A crise global abortou o maior ciclo de crescimento sustentado da economia brasileira desde o Real e fez o PIB do País cair 3,6% no último trimestre de 2008 na comparação livre de influências sazonais com o terceiro trimestre. Foi o pior desempenho da atual série histórica do IBGE, iniciada em 1996, e o resultado deve colocar o Brasil numa recessão diante de sua forte magnitude. Apesar da freada brusca no fim do ano, o PIB cresceu 5,1% em 2008, pouco menos que os 5,7% de 2007. A expansão seria bem mais vigorosa não fosse a crise: até setembro, a taxa acumulada era de 6,4%. Em relação ao quarto trimestre de 2007, o PIB subiu 1,3%, contra os 6,8% do terceiro trimestre.

Ruptura

´A crise provocou uma ruptura no padrão de crescimento´, diz Rebecca Palis, gerente das Contas Nacionais do IBGE. Já Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais, diz que houve uma ´desaceleração muito forte´ e ´generalizada´ no último trimestre.

Mais enfáticos, analistas se mostraram surpresos como a queda acima do previsto — de 2% a 2,5% no último trimestre — e disseram que o País vive um período de recessão.

´Esse resultado aborta um longo período de crescimento vigoroso. Não fosse a crise, o Brasil cresceria na casa de 7% em 2008, algo que não se via há muito tempo. Diante da magnitude da queda no quarto trimestre e da perspectiva de retração no primeiro trimestre de 2009, fica claro que o país está em recessão. E não é uma recessão trivial´, diz Sérgio Vale, da MB Associados.

Rogério César de Souza, do Iedi, concorda: ´Certamente esse resultado mostra que o Brasil já vive uma recessão e vai depender da evolução do mercado interno para sair dela, já que o mundo conviverá por algum tempo com a crise.´

Por causa do fraco desempenho do último trimestre, economistas refizeram as previsões e já projetam um PIB próximo de zero neste ano. Flávio Castello Branco, da CNI, reavaliou as estimativas de alta de 2,5% em 2009 para zero para o PIB deste ano. ´A recessão é mais severa e intensa do que se imaginava.´ ´O tombo da economia foi enorme. Com os dados que já saíram fica muito difícil registrar uma taxa positiva no primeiro trimestre, o que já coloca o país em recessão´, concorda Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da SLW.

Intensidade da queda

Para especialistas, a queda do PIB no quarto trimestre já era esperada, mas veio numa intensidade muito maior do que o previsto — retração de 2% a 2,5%. Uma das surpresas negativas ficou por conta do consumo das famílias — queda de 2% no quarto trimestre. Do lado da produção, o destaque negativo ficou com a indústria, que recuou a taxa recorde de 7,4% no último trimestre de 2008, abalada pelos efeitos da crise sobre setores como veículos (e sua cadeira de fornecedores), siderurgia e material eletrônico. Serviços e agropecuária sentiram menos, e recuaram 0,4% e 0,5% no quarto trimestre.

Sob a ótica da demanda, os investimentos sentiram mais o baque e caíram 9,8% no quarto trimestre, após longo ciclo de forte expansão.