18/08/2011

Rodovias trazem perigos constantes para motoristas

Em um trajeto pelas BRs que margeiam a Capital, a má qualidade do asfalto das vias é a principal reclamação

Longos engarrafamentos, carros pesados entrando na contramão, veículos invadindo a pista vizinha, carros "mergulhando" os pneus nas crateras, muita chateação e trânsito lento. Este é o cotidiano dos motoristas que se arriscam ao atravessar as BRs que margeiam Fortaleza, cortando a região metropolitana. O que era asfalto sumiu, sobrou poeira e a paisagem de uma estrada carroçável.

O problema não seria só o prejuízo material com o caminhão ou com atraso na entrega da carga. O dano maior é quando a vida está em jogo e corre o risco de se acabar nas estradas.

Esse é o grande medo do caminhoneiro Sebastião da Costa, 26. "Saio de casa e minha esposa enche os olhos de lágrima pensando que não vou mais voltar para ela. A buraqueira tem sido a grande causa dos acidentes graves", comenta. Todos os meses, ele corta as BRs - 222, 020 e 116. Diz já ter se acostumado com as crateras que lhe desafiam, mas sempre sofre quando sabe de algum amigo de boleia que faleceu no caminho.

Estatística

Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), acidentes envolvendo caminhões e ônibus são potencialmente os mais perigosos e vêm ocorrendo com bastante frequência nas estradas federais, 36,26% do total das ocorrências nas BRs em 2010.

Foram 1.371 acidentes, com 239 feridos e 36 mortos. Já de janeiro a junho de 2011, este número chegou a 702 dos 1.940 acidentes ocorridos no período. No total do semestre, 122 pessoas ficaram feridas e 13 morreram nas rodovias federais.

Fonte: Diário do Nordeste
 
A BR-020 já é conhecida pelos enormes desníveis. A equipe do Diário do Nordeste percorreu parte dos quilômetros nas proximidades da Capital. Rumo à Canindé, por exemplo, sobram reclamações de motoristas que ficam "no prego", atrasam a viagem, e de passageiros chateados com a demora no trajeto.

Prova da pouca vida útil do conhecido "asfalto sonrisal" - aquele que derrete com as primeiras chuvas - foi o curto espaço entre os buracos. Entre os quilômetros nove e 22 da BR-020 foram quatro paradas forçadas, em que o condutor é forçado a reduzir, fazer manobras, girar o carro para o acostamento, na tentativa de não arrebentar toda a suspensão ou se acidentar gravemente.

Morador da comunidade de Poço Salgado, na beira da rodovia federal, o agricultor José da Silva de Souza, 63, diz ter presenciado ontem mesmo o capotamento de um veiculo. "A pessoa vinha à noite, no escuro e nem viu o grande buraco na pista. Daí rolou pelo barranco. É um perigo constante", diz.

O cheiro de fumaça mostra que nem todos são precavidos. O caminhoneiro Antônio Helder Maciel, 33, é um desses que "queimou" os pneus tentando frear, vendo se fugia da cratera. Ele passa duas vezes por semana na via, na altura da comunidade de Lagoinha. "A gente tem que avançar para cima das casas, subir os acostamentos para tentar passar. É um absurdo o jeito que as pistas estão", critica.

Culpa maior, para Helder Maciel, é da má qualidade da manta asfáltica, que logo é danificada, e a falta de manutenção das rodovias federais.

Na BR-222, nas proximidades de Umirim, situação de descaso é semelhante. A pista parece ser preparada para uma competição de rali. Na margem da estrada, a agricultora Rita Pinheiro, 56, teme pela sua vida. "É tanta buraqueira que os carros quase batem na gente", diz.

Histórico das obras

Em fevereiro de 2004, o Dnit anunciou R$ 47 milhões para restauração das BRs do Ceará, sendo mais de R$ 14 milhões para dois trechos da BR-116 e um da BR-226

EM JUNHO de 2004, o Dnit afirma que apenas as obras entre Itaitinga e Pacajus haviam sido iniciadas

EM DEZEMBRO de 2004, a estimativa era de que a primeira etapa da obra da BR-116, até o Km 26, ficaria pronta até fevereiro de 2005 e dos Km 26 ao 50, estaria concluído em janeiro

Em fevereiro de 2005, o Dnit informou que pretendia concluir as obras até julho, com a liberação de mais R$ 80 milhões para que a segunda etapa da BR-116 ficasse pronta

Em março de 2005, estariam asseguradas as verbas até o Km 40.

A previsão de conclusão até Pacajus seria até julho

Em maio de 2006, o Ministério dos Transportes liberou R$ 37 milhões para a duplicação entre Fortaleza e Pacajus em junho de 2006, o Dnit informou que a duplicação seria finalizada até o fim do ano em 2008, o Dnit anunciou licitações para as obras de reestruturação do trecho 95 Km, na BR-020, e 138 Km, na BR-116, entre julho e agosto em 2007, um trecho da Br-116 - Km 0 a 12 - foi recuperado, entre a divisa do Ceará com a Paraíba

EM JULHO de 2009, começou a obra na BR-116, do Km zero a 12

Em novembro de 2009, foi licitada a recuperação da BR-222

Em 2010, a BR-222 foi recuperada entre Caucaia e o Distrito de Capuan

EM JULHO de 2011, o então ministro dos Transportes, Alfredo do Nascimento, assinou ordem de serviço para recuperação da BR-222

TRANSPORTE
População sofre prejuízos com irregularidades

A situação das rodovias federais no Ceará terminam trazendo vários prejuízos para a população, empresas de transportes de passageiros e de cargas que, muitas vezes, só têm a opção das BRs. De acordo com o diretor do Sindicato dos Transportes de Cargas e Logística no Estado do Ceará (Setcarce), Rubens Freire, o transporte de cargas acaba gerando custos muito elevados por conta do péssimo estado das rodovias.

Isso porque os caminhões quebram com mais frequência e os pneus desgastam com mais facilidade. Fora isso, aumenta o consumo de combustível. "Temos de reduzir o número de viagens porque a demora é maior. O veículo que deveria cumprir um itinerário em 72 horas, só consegue chegar com 96 horas", diz Freire.

Segundo ele, a consequência é que os custos dos fretes tornam-se mais onerosos. "Os custos representam de 15% a 20% do rendimento da produtividade. A suspensão tem que ser revista cotidianamente e as peças trocadas, o que requer um investimento muito alto".

Além disso, os veículos são obrigados a andar devagar por causa dos buracos. Com isso, os transportes tornam-se vulneráveis a assaltos. "A segurança fica comprometida", destaca.

Outro agravante é o risco de colisões entre os veículos que fazem verdadeiros malabarismos para não cair nos buracos.

O diretor do Setcarce acrescenta que os problemas das rodovias federais que passam pelo Ceará é antigo e não são decorrentes da quadra chuvosa. "Há vários anos esperamos por uma solução que não chega". Rubens Freire aponta os trechos de Brejo Santo até Milagres e o de Fortaleza a Sobral como os mais complicados. Neste último, os buracos parecem verdadeiras lombadas. "A estrada está muito ruim. Os buracos tomam conta de toda a extensão. À medida que os motoristas se afastam de Fortaleza, mais problemas surgem. Um deles são as sucessivas camadas de recapeamento, o que torna a pista irregular".

Recuperação

Para o diretor, a solução está em o Governo Federal reformar as estradas o mais breve possível. "É preciso uma providência urgente porque é um problema que se arrasta há muito tempo". Até junho de 2011, a Polícia Rodoviária Federal havia registrado 1.593 acidentes nas BRs que cortam o Ceará, um crescimento de 8% em relação ao mesmo período de 2010.

De acordo com a PRF, os casos são concentrados nos trechos urbanos das vias. Uma das campeãs em registros é a BR-116, entre o quilômetro zero e o 12. Além das colisões provenientes da irregularidade da pista, também são registrados vários atropelamentos.

Em 2011, já foram 83 mortes causadas pelo trânsito gerado pelas péssimas condições das estradas nos perímetros urbanos. Em 2010 foram 84.

BR em números

1.593 Acidentes aconteceram até junho de 2011 nas BRs que cortam o Ceará, um crescimento de 8% em relação a igual período do ano passado, segundo os dados da PRF

83 Mortes foram registradas neste ano nos perímetros urbanos das rodovias federais que atravessam o Estado do Ceará. Em todo o ano de 2010, 84 pessoas foram mortas

IVNA GIRÃO E LINA MOSCOSO
REPÓRTERES