Em um trajeto pelas BRs que margeiam a Capital, a má qualidade do asfalto das vias é a principal reclamação
Longos
engarrafamentos, carros pesados entrando na contramão, veículos
invadindo a pista vizinha, carros "mergulhando" os pneus nas crateras,
muita chateação e trânsito lento. Este é o cotidiano dos motoristas que
se arriscam ao atravessar as BRs que margeiam Fortaleza, cortando a
região metropolitana. O que era asfalto sumiu, sobrou poeira e a
paisagem de uma estrada carroçável.
O problema não seria só o
prejuízo material com o caminhão ou com atraso na entrega da carga. O
dano maior é quando a vida está em jogo e corre o risco de se acabar
nas estradas.
Esse é o grande medo do caminhoneiro Sebastião da
Costa, 26. "Saio de casa e minha esposa enche os olhos de lágrima
pensando que não vou mais voltar para ela. A buraqueira tem sido a
grande causa dos acidentes graves", comenta. Todos os meses, ele corta
as BRs - 222, 020 e 116. Diz já ter se acostumado com as crateras que
lhe desafiam, mas sempre sofre quando sabe de algum amigo de boleia que
faleceu no caminho.
Estatística
Conforme
a Polícia Rodoviária Federal (PRF), acidentes envolvendo caminhões e
ônibus são potencialmente os mais perigosos e vêm ocorrendo com
bastante frequência nas estradas federais, 36,26% do total das
ocorrências nas BRs em 2010.
Foram 1.371 acidentes, com 239
feridos e 36 mortos. Já de janeiro a junho de 2011, este número chegou
a 702 dos 1.940 acidentes ocorridos no período. No total do semestre,
122 pessoas ficaram feridas e 13 morreram nas rodovias federais.
Fonte: Diário do Nordeste
A
BR-020 já é conhecida pelos enormes desníveis. A equipe do Diário do
Nordeste percorreu parte dos quilômetros nas proximidades da Capital.
Rumo à Canindé, por exemplo, sobram reclamações de motoristas que ficam
"no prego", atrasam a viagem, e de passageiros chateados com a demora
no trajeto.
Prova da pouca vida útil do conhecido "asfalto
sonrisal" - aquele que derrete com as primeiras chuvas - foi o curto
espaço entre os buracos. Entre os quilômetros nove e 22 da BR-020 foram
quatro paradas forçadas, em que o condutor é forçado a reduzir, fazer
manobras, girar o carro para o acostamento, na tentativa de não
arrebentar toda a suspensão ou se acidentar gravemente.
Morador
da comunidade de Poço Salgado, na beira da rodovia federal, o
agricultor José da Silva de Souza, 63, diz ter presenciado ontem mesmo
o capotamento de um veiculo. "A pessoa vinha à noite, no escuro e nem
viu o grande buraco na pista. Daí rolou pelo barranco. É um perigo
constante", diz.
O cheiro de fumaça mostra que nem todos são
precavidos. O caminhoneiro Antônio Helder Maciel, 33, é um desses que
"queimou" os pneus tentando frear, vendo se fugia da cratera. Ele passa
duas vezes por semana na via, na altura da comunidade de Lagoinha. "A
gente tem que avançar para cima das casas, subir os acostamentos para
tentar passar. É um absurdo o jeito que as pistas estão", critica.
Culpa
maior, para Helder Maciel, é da má qualidade da manta asfáltica, que
logo é danificada, e a falta de manutenção das rodovias federais.
Na
BR-222, nas proximidades de Umirim, situação de descaso é semelhante. A
pista parece ser preparada para uma competição de rali. Na margem da
estrada, a agricultora Rita Pinheiro, 56, teme pela sua vida. "É tanta
buraqueira que os carros quase batem na gente", diz.
Histórico das obras
Em
fevereiro de 2004, o Dnit anunciou R$ 47 milhões para restauração das
BRs do Ceará, sendo mais de R$ 14 milhões para dois trechos da BR-116 e
um da BR-226
EM JUNHO de 2004, o Dnit afirma que apenas as obras entre Itaitinga e Pacajus haviam sido iniciadas
EM
DEZEMBRO de 2004, a estimativa era de que a primeira etapa da obra da
BR-116, até o Km 26, ficaria pronta até fevereiro de 2005 e dos Km 26
ao 50, estaria concluído em janeiro
Em fevereiro de 2005, o Dnit
informou que pretendia concluir as obras até julho, com a liberação de
mais R$ 80 milhões para que a segunda etapa da BR-116 ficasse pronta
Em março de 2005, estariam asseguradas as verbas até o Km 40.
A previsão de conclusão até Pacajus seria até julho
Em maio de 2006, o Ministério dos Transportes liberou R$ 37 milhões para a duplicação entre Fortaleza e Pacajus em junho de 2006, o Dnit informou que a duplicação seria finalizada até o fim do ano em
2008, o Dnit anunciou licitações para as obras de reestruturação do
trecho 95 Km, na BR-020, e 138 Km, na BR-116, entre julho e agosto em 2007, um trecho da Br-116 - Km 0 a 12 - foi recuperado, entre a divisa do Ceará com a Paraíba
EM JULHO de 2009, começou a obra na BR-116, do Km zero a 12
Em novembro de 2009, foi licitada a recuperação da BR-222
Em 2010, a BR-222 foi recuperada entre Caucaia e o Distrito de Capuan
EM JULHO de 2011, o então ministro dos Transportes, Alfredo do Nascimento, assinou ordem de serviço para recuperação da BR-222
TRANSPORTE
População sofre prejuízos com irregularidades
A
situação das rodovias federais no Ceará terminam trazendo vários
prejuízos para a população, empresas de transportes de passageiros e de
cargas que, muitas vezes, só têm a opção das BRs. De acordo com o
diretor do Sindicato dos Transportes de Cargas e Logística no Estado do
Ceará (Setcarce), Rubens Freire, o transporte de cargas acaba gerando
custos muito elevados por conta do péssimo estado das rodovias.
Isso
porque os caminhões quebram com mais frequência e os pneus desgastam
com mais facilidade. Fora isso, aumenta o consumo de combustível.
"Temos de reduzir o número de viagens porque a demora é maior. O
veículo que deveria cumprir um itinerário em 72 horas, só consegue
chegar com 96 horas", diz Freire.
Segundo ele, a consequência é
que os custos dos fretes tornam-se mais onerosos. "Os custos
representam de 15% a 20% do rendimento da produtividade. A suspensão
tem que ser revista cotidianamente e as peças trocadas, o que requer um
investimento muito alto".
Além disso, os veículos são obrigados
a andar devagar por causa dos buracos. Com isso, os transportes
tornam-se vulneráveis a assaltos. "A segurança fica comprometida",
destaca.
Outro agravante é o risco de colisões entre os veículos que fazem verdadeiros malabarismos para não cair nos buracos.
O
diretor do Setcarce acrescenta que os problemas das rodovias federais
que passam pelo Ceará é antigo e não são decorrentes da quadra chuvosa.
"Há vários anos esperamos por uma solução que não chega". Rubens Freire
aponta os trechos de Brejo Santo até Milagres e o de Fortaleza a Sobral
como os mais complicados. Neste último, os buracos parecem verdadeiras
lombadas. "A estrada está muito ruim. Os buracos tomam conta de toda a
extensão. À medida que os motoristas se afastam de Fortaleza, mais
problemas surgem. Um deles são as sucessivas camadas de recapeamento, o
que torna a pista irregular".
Recuperação
Para
o diretor, a solução está em o Governo Federal reformar as estradas o
mais breve possível. "É preciso uma providência urgente porque é um
problema que se arrasta há muito tempo". Até junho de 2011, a Polícia
Rodoviária Federal havia registrado 1.593 acidentes nas BRs que cortam
o Ceará, um crescimento de 8% em relação ao mesmo período de 2010.
De
acordo com a PRF, os casos são concentrados nos trechos urbanos das
vias. Uma das campeãs em registros é a BR-116, entre o quilômetro zero
e o 12. Além das colisões provenientes da irregularidade da pista,
também são registrados vários atropelamentos.
Em 2011, já foram
83 mortes causadas pelo trânsito gerado pelas péssimas condições das
estradas nos perímetros urbanos. Em 2010 foram 84.
BR em números
1.593
Acidentes aconteceram até junho de 2011 nas BRs que cortam o Ceará, um
crescimento de 8% em relação a igual período do ano passado, segundo os
dados da PRF
83 Mortes foram registradas neste ano nos
perímetros urbanos das rodovias federais que atravessam o Estado do
Ceará. Em todo o ano de 2010, 84 pessoas foram mortas
IVNA GIRÃO E LINA MOSCOSO
REPÓRTERES