29/06/2011

Samu comprometido por falta de macas

Fonte: Diário do Nordeste

Com a falta de leitos, ambulâncias do Serviço ficam paradas com os pacientes, impedindo  o socorro imediato

A dona de casa Maria do Livramento Oliveira Sales foi atropelada na manhã da última segunda-feira, na esquina das avenidas Antônio Sales e Desembargador Moreira. A ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) só chegou ao local 40 minutos depois de ser acionado.

A espera de Maria do Livramento pelo socorro do 192 exemplifica apenas um dos muitos ocorridos na Capital devido aos problemas estruturais enfrentados pelo serviço. Um deles, a falta de macas compromete a rapidez no atendimento das ambulâncias.

Isso acontece, afirma a coordenadora de Enfermagem do Samu, Janete Fernandes, porque ao deslocarem os pacientes para os hospitais, muitas vezes, as macas ficam retidas com as vítimas nas dependências da emergência da unidade. Esta, por sua vez, encontra-se superlotada, necessitando das macas do Samu para que os primeiros socorros sejam realizados.

“Somente no último plantão, quando integrei uma das equipes de urgência, 17 macas ficaram no Hospital Geral de Fortaleza e outras tantas no Instituto José Frota por lá não havia nem leito e nem macas próprias das unidades para colocar o paciente”, denuncia.

“Temos macas reservas e fazemos um revezamento. Entretanto, quando são muitas retidas prejudica o atendimento. Até porque, em média, cada ambulância faz duas remoções a cada uma hora”, explica.

Além disso, as ambulâncias são em número inferior a necessidade de uma cidade como Fortaleza. São 18 ambulâncias, incluindo uma Unidade de Terapia Intensiva e outra especial para o atendimento psiquiátrico.

Muitas delas sucateadas.

Na unidade do Samu da Parquelândia, onde a maioria delas é abastecida com material como oxigênio, duas estavam em manutenção e outra apresentando ferrugem e com a porta amarrada por arame.

O diretor do Samu/Fortaleza, Messias Simões, ressalta que a defasagem no valor do repasse do Ministério da Saúde (MS) compromete o serviço. Ele não nega as dificuldades e apresenta números. Os custos com o Serviço estão na faixa de R$ 9 milhões por ano. Sendo que apenas 25% são repassados pelo MS e 75% arcados pelo Município. “Quando deveria ser o contrário, além do mais, o governo do Estado não nos repassa o porcentual deles faz tempo”.

Os recursos atuais, afirma, estão defasados há quase uma década e não se pode fazer muitas coisas além do estritamente necessário para manter o atendimento. O investimento em tecnologia, com a implantação de equipamentos como o Georeferenciamento do Veículo esbarram na legislação vigente. “O rastreamento das ambulâncias não é obrigatório”, afirma.

Segundo ele, para normatizar o uso dos equipamentos, o MS terá que também arcar com os custeios e isso “nem é cogitado por Brasília”, diz.

A falta de monitoramento também compromete o atendimento com agilidade. O próprio diretor do Samu/Fortaleza denuncia. Teve caso de o socorrista afirmar estar em um local e na realidade estava em outro.

“Sem falar em reclamações de famílias que dizem que a ambulância nem chegou lá e o socorrista afirma que sim”.

Simões diz que o uso da unidade de Georeferenciamento e dos adesivos inteligentes (usados nas máquinas) facilitaria muito esse controle. “É possível tudo sobre o percurso do veículo, da velocidade ao tempo”.

Lêda Gonçalves
Repórter