18/08/2011

Tempere com moderação

Fonte: Diário do Nordeste
 
O sal de cozinha é constituído por uma mistura de 60% de cloreto e 40% de sódio. Este último é um mineral que, conforme a dra. Ana Lúcia Leitão, especialista pela SBC, exerce funções importantes para o bom funcionamento do organismo, como a transmissão de impulsos nervosos e a manutenção do equilíbrio hídrico, dentre outras. "Uma redução drástica pode ocasionar fraqueza, sonolência, torpor, cãibra, e desorientação", adverte a médica.

Por outro lado, a ingestão excessiva de sódio, além de causar retenção hídrica, inchaço e desidratação, é um dos fatores de risco para o aumento da pressão arterial, principal responsável por infarto e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Além disso, sobrecarrega os rins, podendo, a longo prazo, evoluir e levar à insuficiência renal.

Adolescentes e crianças também não estão livres de desenvolver tais doenças. Por isso, conforme a dra. Ana Lúcia Leitão, é preciso que o cuidado com o sal comece o mais cedo possível. "O leite materno é pobre em sal, e, logo após o término da amamentação (aos seis meses), a mãe já deve ficar atenta às porções de sal na dieta. As papinhas prontas devem ser sempre a última opção", alerta.

Lembra que a hipertensão arterial em crianças praticamente dobrou nos últimos 20 anos, possivelmente em resposta ao consumo excessivo de sal. Uma análise de vários estudos mostrou uma estreita relação entre a redução no consumo do mineral e a diminuição da PA e, consequentemente, o risco de doenças cardíacas na fase adulta. "Uma criança de 6 anos não deve consumir mais do que 2g de sódio por dia", afirma Dra. Ana Lúcia de Sá Leitão Ramos.

Apesar de o brasileiro estar mais informado quanto à leitura dos rótulos, a verdade é que, a maioria se restringe a observar o índice de calorias e, no máximo, as de colesterol e gorduras saturadas, sem atentar para o sódio. Segundo a médica e mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (RJ), um combinado típico das redes fast-food (hambúrguer, batata frita, refrigerante e sorvete) contém 80% da necessidade diária do mineral em um adulto.

Segundo a professora do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza (Unifor), Sara Moreira, o consumo máximo de sódio precisa ser bastante cauteloso. "É importante lembrar que o sódio está presente de forma natural em muitos alimentos, portanto, o cuidado deve ser com o sal de adição, ou seja, aquele que colocamos na panela ou adicionamos no prato pronto", explica. A recomendação é que a adição do tempero não ultrapasse, portanto, 3g/dia, uma vez que as outras 2g já são ofertados pelos alimentos. Indivíduos com idade acima de 50 anos precisam ficar ainda mais atentos. Segundo a nutricionista, o mais indicado é que haja uma redução gradual até chegar a 3g/dia de sal.

Menos sal, mais sabor

Uma forma de reduzir a ingestão sem deixar de ressaltar o sabor dos alimentos, é o uso de ervas. Alho, cebola, tomate e cheiro-verde são ingredientes que qualquer dona-de-casa possui na cozinha, porém, há ainda uma infinidade de produtos como tomilho, alecrim, orégano, manjericão, a serem explorados por nossos paladares. Pois, a verdade é que o sal em excesso, além de prejudicial à saúde, mascara o verdadeiro sabor dos alimentos.

Deve-se evitar o consumo de produtos industrializados - embutidos, queijos, conservas, sopas, molhos e temperos prontos, dentre outros - uma vez que eles possuem um elevado teor de sódio e são os conservantes mais usados na indústria alimentícia. "O consumidor deve se habituar a ler os rótulos, pois neles, obrigatoriamente, deve estar descrita a quantidade de sódio por porção", explica Sara Moreira.


Fique por dentro

Redução gradual de sal é exigência

Diante dos dados alarmantes constantemente divulgados na imprensa, os quais relacionam o consumo de sal ao aumento da frequência de doenças cardiovasculares e renais, o governo federal assinou, em abril desde ano, um termo de compromisso junto à associações representantes dos produtores de alimentos processados. O termo visa o estabelecimento de um plano que determina a redução gradual na quantidade de sódio contidos em 16 tipos de alimentos.

A previsão é de que essa medida contribua para que a recomen-dação de consumo máximo da OMS seja atingida até o ano de 2020. A partir do documento, fica definido o teor máximo de sódio para cada 100 gramas nos alimentos industrializados.

O prazo estabelecido para o cumprimento das metas é de alguns produtos já terem redução de sal em 2012 e 2014 para outros.


ENTREVISTA

Consumo excessivo de sal é também uma questão de saúde pública

Quais os principais prejuízos que o consumo excessivo de sal pode trazer para o organismo?

O sal, em excesso, além de ocasionar a retenção de líquidos, endurece os vasos sanguíneos, elevando a pressão arterial, prejudicando o bombeamento de sangue no coração e, consequentemente, possibilitando a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais. Além disso, em grandes quantidades, o sal sobrecarrega e lesiona os rins, uma vez que eles têm de trabalhar muito mais para eliminar o mineral. Juntos, eles eliminam também água, levando a desidratação.

Qual o principal objetivo da Campanha "Menos sal. Sua saúde agradece!"?

Queremos alertar a população para uma ingestão menor de sal. O brasileiro consome diariamente entre 10 e 12g, enquanto que o recomendado é 5g. Isso equivale a 1 colher de sobremesa rasa de sal. Nosso objetivo é fazer com que a média da população chegue a esse nível, diminuindo os riscos para as doenças já citadas.

Como será feito esse trabalho?

As Sociedades Brasileiras de Hipertensão, Cardiologia e Nefrologia estão juntamente empenhadas em levar conhecimento à população por meio de ações locais, bem como do trabalho do próprio médico nos consultórios. Até mesmo o governo federal está preocupado com isso, exigindo a redução de sódio nos alimentos industrializados. O excesso de sal é uma questão de saúde pública e realmente falta conhecimento à população. É um trabalho a longo prazo.


Dr. Daniel Rinaldi
Presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia


Porções mais saudáveis

Reduza o sal no preparo dos alimentos, substituindo temperos industrializados (molhos prontos, shoyu, catchup, caldos de carne e galinha, etc) pelos naturais (azeite, limão, alho, cebola, alecrim, etc.);

Evite alimentos enlatados, em conserva e salgadinhos tipo "chips";

Modere o consumo de carnes e peixes secos, produtos defumados, bacon, embutidos em geral e queijos amarelos, curados e temperados;

O consumo de bebidas alcoólicas e refrigerantes - mesmo os diet ou light - devem ser evitados;

Prefira bolos e tortas caseiras e sem fermento químico, bem como os pães e as massas que não contenham coberturas salgadas;

Beba no mínimo dois litros de água por dia;

Retire o saleiro da mesa na hora das refeições e use o sal apenas durante o cozimento dos alimentos;

Consuma mais alimentos naturais e ricos em fibras, em detrimento dos fast-foods.