Fonte: Diário do Nordeste
O sal de cozinha é constituído por uma mistura de 60% de cloreto e 40%
de sódio. Este último é um mineral que, conforme a dra. Ana Lúcia
Leitão, especialista pela SBC, exerce funções importantes para o bom
funcionamento do organismo, como a transmissão de impulsos nervosos e a
manutenção do equilíbrio hídrico, dentre outras. "Uma redução drástica
pode ocasionar fraqueza, sonolência, torpor, cãibra, e desorientação",
adverte a médica.
Por outro lado, a ingestão excessiva de sódio,
além de causar retenção hídrica, inchaço e desidratação, é um dos
fatores de risco para o aumento da pressão arterial, principal
responsável por infarto e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Além
disso, sobrecarrega os rins, podendo, a longo prazo, evoluir e levar à
insuficiência renal.
Adolescentes e crianças também não estão
livres de desenvolver tais doenças. Por isso, conforme a dra. Ana Lúcia
Leitão, é preciso que o cuidado com o sal comece o mais cedo possível.
"O leite materno é pobre em sal, e, logo após o término da amamentação
(aos seis meses), a mãe já deve ficar atenta às porções de sal na
dieta. As papinhas prontas devem ser sempre a última opção", alerta.
Lembra
que a hipertensão arterial em crianças praticamente dobrou nos últimos
20 anos, possivelmente em resposta ao consumo excessivo de sal. Uma
análise de vários estudos mostrou uma estreita relação entre a redução
no consumo do mineral e a diminuição da PA e, consequentemente, o risco
de doenças cardíacas na fase adulta. "Uma criança de 6 anos não deve
consumir mais do que 2g de sódio por dia", afirma Dra. Ana Lúcia de Sá
Leitão Ramos.
Apesar de o brasileiro estar mais informado quanto
à leitura dos rótulos, a verdade é que, a maioria se restringe a
observar o índice de calorias e, no máximo, as de colesterol e gorduras
saturadas, sem atentar para o sódio. Segundo a médica e mestre em Saúde
Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (RJ), um combinado típico das redes
fast-food (hambúrguer, batata frita, refrigerante e sorvete) contém 80%
da necessidade diária do mineral em um adulto.
Segundo a
professora do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza (Unifor),
Sara Moreira, o consumo máximo de sódio precisa ser bastante cauteloso.
"É importante lembrar que o sódio está presente de forma natural em
muitos alimentos, portanto, o cuidado deve ser com o sal de adição, ou
seja, aquele que colocamos na panela ou adicionamos no prato pronto",
explica. A recomendação é que a adição do tempero não ultrapasse,
portanto, 3g/dia, uma vez que as outras 2g já são ofertados pelos
alimentos. Indivíduos com idade acima de 50 anos precisam ficar ainda
mais atentos. Segundo a nutricionista, o mais indicado é que haja uma
redução gradual até chegar a 3g/dia de sal.
Menos sal, mais sabor
Uma
forma de reduzir a ingestão sem deixar de ressaltar o sabor dos
alimentos, é o uso de ervas. Alho, cebola, tomate e cheiro-verde são
ingredientes que qualquer dona-de-casa possui na cozinha, porém, há
ainda uma infinidade de produtos como tomilho, alecrim, orégano,
manjericão, a serem explorados por nossos paladares. Pois, a verdade é
que o sal em excesso, além de prejudicial à saúde, mascara o verdadeiro
sabor dos alimentos.
Deve-se evitar o consumo de produtos
industrializados - embutidos, queijos, conservas, sopas, molhos e
temperos prontos, dentre outros - uma vez que eles possuem um elevado
teor de sódio e são os conservantes mais usados na indústria
alimentícia. "O consumidor deve se habituar a ler os rótulos, pois
neles, obrigatoriamente, deve estar descrita a quantidade de sódio por
porção", explica Sara Moreira.
Fique por dentro
Redução gradual de sal é exigência
Diante
dos dados alarmantes constantemente divulgados na imprensa, os quais
relacionam o consumo de sal ao aumento da frequência de doenças
cardiovasculares e renais, o governo federal assinou, em abril desde
ano, um termo de compromisso junto à associações representantes dos
produtores de alimentos processados. O termo visa o estabelecimento de
um plano que determina a redução gradual na quantidade de sódio
contidos em 16 tipos de alimentos.
A previsão é de que essa
medida contribua para que a recomen-dação de consumo máximo da OMS seja
atingida até o ano de 2020. A partir do documento, fica definido o teor
máximo de sódio para cada 100 gramas nos alimentos industrializados.
O prazo estabelecido para o cumprimento das metas é de alguns produtos já terem redução de sal em 2012 e 2014 para outros.
ENTREVISTA
Consumo excessivo de sal é também uma questão de saúde pública
Quais os principais prejuízos que o consumo excessivo de sal pode trazer para o organismo?
O
sal, em excesso, além de ocasionar a retenção de líquidos, endurece os
vasos sanguíneos, elevando a pressão arterial, prejudicando o
bombeamento de sangue no coração e, consequentemente, possibilitando a
ocorrência de acidentes vasculares cerebrais. Além disso, em grandes
quantidades, o sal sobrecarrega e lesiona os rins, uma vez que eles têm
de trabalhar muito mais para eliminar o mineral. Juntos, eles eliminam
também água, levando a desidratação.
Qual o principal objetivo da Campanha "Menos sal. Sua saúde agradece!"?
Queremos
alertar a população para uma ingestão menor de sal. O brasileiro
consome diariamente entre 10 e 12g, enquanto que o recomendado é 5g.
Isso equivale a 1 colher de sobremesa rasa de sal. Nosso objetivo é
fazer com que a média da população chegue a esse nível, diminuindo os
riscos para as doenças já citadas.
Como será feito esse trabalho?
As
Sociedades Brasileiras de Hipertensão, Cardiologia e Nefrologia estão
juntamente empenhadas em levar conhecimento à população por meio de
ações locais, bem como do trabalho do próprio médico nos consultórios.
Até mesmo o governo federal está preocupado com isso, exigindo a
redução de sódio nos alimentos industrializados. O excesso de sal é uma
questão de saúde pública e realmente falta conhecimento à população. É
um trabalho a longo prazo.
Dr. Daniel Rinaldi
Presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia
Porções mais saudáveis
Reduza
o sal no preparo dos alimentos, substituindo temperos industrializados
(molhos prontos, shoyu, catchup, caldos de carne e galinha, etc) pelos
naturais (azeite, limão, alho, cebola, alecrim, etc.);
Evite alimentos enlatados, em conserva e salgadinhos tipo "chips";
Modere
o consumo de carnes e peixes secos, produtos defumados, bacon,
embutidos em geral e queijos amarelos, curados e temperados;
O consumo de bebidas alcoólicas e refrigerantes - mesmo os diet ou light - devem ser evitados;
Prefira bolos e tortas caseiras e sem fermento químico, bem como os pães e as massas que não contenham coberturas salgadas;
Beba no mínimo dois litros de água por dia;
Retire o saleiro da mesa na hora das refeições e use o sal apenas durante o cozimento dos alimentos;
Consuma mais alimentos naturais e ricos em fibras, em detrimento dos fast-foods.