Fonte: Diário do Nordeste
Dos pacientes vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), em Fortaleza, entre junho de 2009 e junho deste ano, 28% já haviam tido o problema uma vez. O dado faz parte de um estudo que será divulgado, hoje, pelo coordenador do Comitê Estadual de AVC da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), neurologista João José Carvalho, por ocasião do Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Segundo João José, a pesquisa integra o Programa de Atenção Integral e Integrada ao AVC no Ceará. O projeto prevê uma série de diretrizes, traçadas há quase cinco anos, no sentido de reduzir as mortes e o número de pacientes com problemas ocasionados pela doença, no Estado. Hoje, revela, são registrados 20 mil novos casos de AVC, por ano, no Ceará. Destes pacientes, 1/4 morre, 1/4 fica severamente incapacitado, 1/4 fica moderadamente incapacitado e 1/4 fica levemente incapacitado ou sem nenhum sequela. Uma das primeiras ações do Programa foi a realização de um estudo epidemiológico da situação, na Capital, para que fossem detectadas informações referentes a quesitos como público mais atingido e a que condições os casos mais se relacionam.
O médico ressalta que, apesar do nome sugerir um acidente, não existe AVC sem fatores de risco. "Pessoas sem pressão alta, diabetes, que não fumam, não bebem em excesso e não são sedentárias nunca terão um AVC", garante. "Portanto, o problema é previsível e, desta forma, pode ter seus efeitos minimizados com acompanhamento".
João José ressalta, ainda, que o Acidente Vascular Cerebral ocupa o topo da lista entre as principais causas de morte, em todo o Brasil. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) registram que mais de cinco milhões de pessoas morrem todos os anos devido ao AVC. No Brasil, este número é de aproximadamente 100 mil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Deste total, 26,6 mil óbitos ocorrem na região Nordeste. O Ceará contabiliza em torno de 4.500 óbitos anuais.
Unidade
Conforme João José, desde o ano passado, o HGF conta com uma Unidade exclusiva para atendimento de pacientes vítimas de AVC. O setor conta com 20 leitos e uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e nutricionistas. "Está provado cientificamente que tratar pacientes de AVC em espaços dedicados a isso faz toda a diferença", diz. Ali, conta, com base em levantamento feito com os cerca de 1.000 pacientes já atendidos, a mortalidade caiu 30% e a quantidade de incapacitados foi reduzida em 50%. Além dos 20 leitos do HGF, a Capital conta com outra unidade, esta semi-aguda, com mais 66 leitos, no Hospital Waldemar Alcântara, voltados para pacientes em recuperação.
O problema, porém, denuncia João José, é que pelo menos a metade destes leitos acaba sendo ocupada por pacientes vítimas de outras doenças, em decorrência da superlotação dos hospitais públicos. "A capacidade total, dos 86 leitos, seria de 160 pacientes por mês, o suficiente para a demanda de Fortaleza, mas alcançamos somente 80 pacientes por mês", afirma. Por isso, ressalta o médico, a ideia é que o modelo seja replicado em hospitais regionais. "Em quatro anos, a meta é que nenhum cearense esteja a mais de uma hora de uma equipe multiprofissional treinada para atender casos de AVC". Este tempo, explica, é a chamada golden hour (hora de ouro, em português), período máximo ideal para a realização dos primeiros procedimentos.
Mesmo quando este prazo é respeitado, João José alerta para o fato de quem nem todos os hospitais estão preparados para diagnosticar a doença. "Por isso, é preciso estar atento aos sintomas, que aparecem subitamente, e controlar os fatores de risco", avalia.
Formigamento no rosto, braço ou perna; confusão mental; alteração na visão; perda de equilíbrio ou dor de cabeça repentina: caso algum destes sinais se apresente, um teste simples pode ajudar a decidir se é hora de procurar a emergência de um hospital. A chamada Escala de Cincinnati sugere que o paciente seja orientado a sorrir, levantar os braços e repetir uma frase. "Caso haja assimetrias na face, descoordenação no ato de erguer os braços ou incapacidade de pronunciar as palavras, um hospital deve ser procurado imediatamente para agilizar atendimento e tentar evitar sequelas", ensina João.
Sintomas
Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo.
Confusão, alteração da fala ou na compreensão.
Problemas na visão (em apenas um ou ambos os olhos).
Alteração do equilíbrio, coordenação motora, tontura ou alteração no caminhar.
Dor de cabeça súbita, intensa e sem causa aparente.
FILIPE PALÁCIO
REPÓRTER