Fonte: Diário do Nordeste
A funcionária pública Maria de Lurdes Bezerra, 41 anos, evita sorrir em público. "Tenho vergonha", revela a mãe de dois adolescentes, que, há um ano e meio, perdeu os dois dentes da frente em um acidente. A sua situação não é um exceção, pelo contrário. Pesquisa realizada, em 2007, pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) revela que a saúde bucal da população de Fortaleza não está nada boa.
Para se ter uma ideia, de acordo com o levantamento, 236 mil 710 pessoas na faixa etária de 35 a 44 anos esperam por uma prótese dentária na arcada superior, o que equivale a 81,65% do total da população nessa faixa etária. Ainda entre estes adultos, 136 mil 744 precisam de uma próteses superiores, o que corresponde a 47,3%.
A situação é alarmante quando falamos do atendimento para este segmento. Segundo a coordenadora de Saúde Bucal do Município, Ylanne Ibiapina, 91 unidades de saúde fazem atendimento odontológico na Capital. No entanto, apenas dois Centro de Especialidades Odontológicas (CEOs) trabalham com próteses dentárias.
Ainda conforme ela, a quantidade de profissionais também não é suficiente para atender a demanda. "Temos uma equipe com 268 dentistas para toda a Capital, no entanto precisamos contratar mais 40", confessa.
De acordo com a coordenadora, serão convocados novos dentistas para trabalhar nos Centros ainda este ano, mas não tem data prevista, nem quantidade. Ylanne ressalta que o problema não se restringe somente aos adultos. A pesquisa da SMS revela, também, que 44 mil 857 idosos na faixa etária de 65 a 74 anos precisam de prótese inferior, representando 66,9% desse público.
Outros 24 mil 749 com a mesma faixa etária esperam por próteses superiores, o que corresponde a 47,3%.
O mais preocupante é que os jovens não estão isentos dessa necessidade e os números são gritantes na Capital. A pesquisa revelou que 39mil 236 adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos precisam de uma prótese na arcada inferior, o que corresponde a 14,64%. Outros 18 mil 580, necessitam de dentes na arcada superior.
Ceará
O número da população que precisa de próteses no Ceará "é imensurável", na avaliação do coordenador de Saúde Bucal do Estado, Ivan Rodrigues Júnior, que não dispõe de estudo recente para fundamentar a sua informação. Ela é empírica, baseada na experiência. "A demanda é muito grande, mas não temos nem ideia de quantos desdentados existem no Estado", frisa.
Para se ter um ideia, Rodrigues Júnior revela dados da última pesquisa realizada em 2004, mostrando que 60% dos idosos na faixa etária de 65 a 74 anos eram completamente desdentados, o que equivale a 235 mil e 800 pessoas.
Na faixa etária de 35 a 44 anos são 345 mil e 300 pessoas aguardavam por uma prótese superior, o que correspondia a 30% dessa população. Já na arcada inferior, o número era menor, apenas 10% dessa população, o que correspondia a 115 mil e 100 pessoas.
Apesar da grande demanda dos 77 Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) que funcionam no Estado, apenas nove oferecem próteses. Os demais só fazem atendimentos básicos, como aplicação de flúor, restaurações, remoção de tártaro e pequenas cirurgias.
Conforme Rodrigues, a situação tende a melhorar, pois até o fim do ano serão implantados mais 11 CEOs. "Até o fim deste mês serão inaugurados os CEOs de Acaraú, Baturité e Russas. Queremos dar mais qualidade a população do Interior", frisa.
Falta de dentes pode levar à doença cardíaca
Dores de cabeça, musculares e, até mesmo, problemas no coração, no pulmão ou nos rins podem ser ocasionados por mastigação incorreta devido à ausência de dentes ou infecções dentárias, conforme especialistas.
De acordo com Ivan Rodrigues Júnior, coordenador de Saúde Bucal no Estado do Ceará, cerca de 40% da população cearense só procuram atendimento odontológico quando estão sentindo dor, o que não é adequado.
Diante disso, Rodrigues Júnior ressalta que a ausência de dentes na boca pode acarretar problemas de saúde e até mesmo de cunho social.
Perigo
As pessoas devem ficar atentas aos cuidados com a saúde bucal. Segundo o especialista, em casos mais graves de infecção, a bactéria instalada na cavidade bucal pode se deslocar para outras regiões do corpo.
"Esse deslocamento gera problemas no fígado, pulmão ou coração. Diversos órgãos podem ficar comprometidos", ressalta Rodrigues Júnior.
O coordenador diz que os desdentados tendem a ter uma mastigação errada, o que gera disfunção crânio-facial ou mandibular, ou seja, doenças que têm como sintomas enxaquecas, além de fortes dores na região da mandíbula e nos músculos do pescoço.
"A ausência de dentes faz com que as pessoas mastiguem de um só lado. Isso, efetivamente, mexe com toda a região da cabeça e pode gerar desconfortos constantes", frisa, alertando para os cuidados.
Outro agravante da falta de dentes são os problemas sociais que isso pode acarretar. De acordo com estudiosos, quando os dentes não estão dentro do padrão, como a falha na arcada dentária, o indivíduo possivelmente sofrerá dificuldade de se relacionar com outras pessoas e com o mundo ao seu redor.
"Quando uma criança ou um jovem perde um dente, ele vai evitar ir à escola ou sair com os amigos. Isso, consequentemente, influencia no seu desenvolvimento como um todo", diz o coordenador de Saúde Bucal.
A opinião do especialista
Saúde bucal vale muito
MÁRCIA SOBREIRA
A prevenção das doenças da boca é, hoje, um fator preponderante para a manutenção da saúde geral de um indivíduo, já que a boca é a porta de entrada para as bactérias que podem atacar nosso organismo.
A higiene oral, com o uso adequado da escova e do fio dental, e o controle da dieta alimentar (menor ingestão de açúcar) do paciente são os fatores mais importantes nessa prevenção. A visita periódica ao dentista é necessária para que esse especialista avalie a eficiência na manutenção desse processo e as necessidades individuais de cada paciente.
Algumas condições sistêmicas, como diabetes, hipertensão ou uso de medicamentos que causem diminuição salivar (boca seca), estresse, depressão e tabagismo deixam o individuo mais suscetível a doenças bucais, entre elas, enfermidades periodontais (problemas de gengiva) e cárie.
No caso de ausência parcial ou total de dentes, é sempre necessário que o paciente procure o dentista para que possa ser feita a reposição por meio de próteses. A ausência de um único elemento dentário pode ser capaz de causar mudanças na posição dos outros dentes a ele relacionados devido ao espaço que fica vazio na arcada.
Essa alteração na oclusão pode levar a traumas na mastigação por contato inadequado entre os dentes e, também, alterações na articulação temporomandibular (ATM), podendo acarretar dores de cabeça, na região próxima ao ouvido, na mastigação ou nos movimentos da boca e tontura. Quanto maior a perda dental maior o colapso do sistema estomatognático, podendo alterar, além da estética, a fala, a mastigação, os músculos mastigatórios e a ATM.
Qualquer tipo de prótese, seja ela fixa, removível ou total, é capaz de reabilitar um paciente com perda dental. Mas, com o advento dos implantes odontológicos, hoje, há um método eficiente para suportar essas próteses, aumentando a retenção das mesmas, propiciando maior conforto e segurança ao paciente.
Doutora em Reabilitação Oral e professora de Prótese da Unifor
KARLA CAMILA
REPÓRTER