08/10/2010

Ceará produz modelo de coração artificial

Fonte: Diário do Nordeste
 
Dispositivo oferece mais mobilidade e viabilidade financeira. Expectativa é de que seja lançado em seis meses

Um novo passo para o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca foi dado pelo Ceará. Uma empresa privada, em parceria com o Hospital de Messejana, desenvolveu um dispositivo de assistência ventricular mecânica, o chamado "coração artificial", menor e mais viável financeiramente que o modelo atualmente utilizado no País.

Desenvolvido para oferecer mais segurança e qualidade de vida àqueles que sofrem dessa enfermidade, o Ax-Tide Vad está ainda em fase de testes, aguardando autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que possa, enfim, ser utilizado clinicamente.

Ao contrário dos corações artificiais usados no Brasil, explica o inventor do Ax-Tide Vad, o pesquisador em cirurgia cardíaca Alessandro Verona, o novo modelo de coração artificial funciona como uma espécie de turbina, dentro do coração do paciente. Através de um tubo de três milímetros de diâmetro, o equipamento conecta o órgão a uma central externa de controle eletrônico, que pode ser facilmente carregada.

Projetado pela empresa Studheart, o primeiro dispositivo de última geração produzido na América Latina - por conta do porte menor - deve oferecer mais qualidade de vida ao paciente. Isso porque o usuário disporá de maior capacidade de locomoção e precisará passar menos tempo no hospital.

Conforme Alessandro, outra vantagem consiste no fato de que o tubo conector utilizado pelo Ax-Tide Vad ser mais fino que os usados em aparelhos tradicionais no País, o que reduz o risco de complicações e infecções decorrentes da utilização de um dispositivo de assistência ventricular mecânica.

Rentabilidade

Além de ser vantajoso para os pacientes, o equipamento também deve gerar menos despesas para os hospitais. De acordo com o cirurgião cardiovascular pediatra do Hospital de Messejana Valdester Cavalcante, os dispositivos de que os hospitais atualmente dispõem vêm da Europa ou dos Estados Unidos. A utilização de um equipamento brasileiro, afirma Valdester, torna-se mais rentável por eliminar as taxas pagas na importação dos aparelhos.

Outro fator que torna o tratamento de pacientes com deficiência cardíaca mais viável é o fato de que, por possibilitar aos usuários mais mobilidade e reduzir a necessidade de ficar internado, o hospital terá um gasto menor com internações.

Experimentação

Atualmente, o Ax-Tide Vad está em fase final de experimentação. O dispositivo foi testado em cerca de 100 animais e aguarda a autorização da Anvisa para ser utilizado, enfim, clinicamente. A expectativa de Alessandro Verona é de que o equipamento já possa ser usado nos hospitais em, no máximo, seis meses.

Conforme o pesquisador, já foram produzidos, para viabilizar a implantação do novo dispositivo, 40 modelos do Ax-Tide Vad. Para que os dispositivos possam entrar no mercado, esclarece Alessandro, é preciso que ele possa ser produzido em grande escala. "De nada adianta você criar um produto se não tem mais modelos", afirma.

Quando for lançado definitivamente no mercado, o Ax-Tide Vad já deverá atender a demanda existente em todo o Ceará. Existem, no Estado, 14 pacientes na fila de espera por um transplante de coração. Desses, cinco são crianças.

De modo geral, o dispositivo de assistência ventricular mecânica, no Brasil, é utilizado para prolongar a vida de pacientes que necessitam de um transplante. Em todo o País, apenas um paciente a ultrapassar mais de 15 dias utilizando coração artificial, cuja prática foi realizada no Hospital de Messejana.

No último mês, o agricultor Luiz Hélio Mendonça, acometido pela Doença de Chagas, surpreendeu os médicos após passar 51 dias à espera de transplante de coração, utilizando apenas um órgão artificial.