Dor na cabeça e no bolso. É assim que a vendedora Ana Carolina Nunes, 32 anos, diz que se sente quando lembra que pagou em 12 parcelas mensais uma televisão de LCD de 40 polegadas adquirida no
Natal do ano passado. As prestações tinham juros embutidos, o que, segundo ela, acabou tornando a compra ``extremamente desvantajosa``.
"Primeiro, eu nem precisava tanto de uma TV, pois tinha uma que já dava pro gasto. Segundo, paguei por ela o ano todo e, no final, ela quase custou o dobro do valor à vista``, conclui Ana Carolina. E esta não foi sua única aquisição no ano passado. Ela também aproveitou para comprar
presentes natalinos para a família e para os amigos através das facilidades do pagamento de longo prazo.
Nesse ano, mesmo com o 13º salário já na conta bancária, a vendedora diz que não cairá nas ``armadilhas`` das longas prestações. ``Aprendi uma lição. Só vou parcelar se for estritamente necessário``, avalia Ana Carolina. Isso porque, segundo ela, a soma das parcelas de todas as suas compras do ano passado estava comprometendo mais da metade de sua renda mensal.
Ana Carolina não é a única a ter o
orçamento pessoal comprometido pelos longos parcelamentos. De acordo com a economista e professora de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Myrian Lundi, mesmo sabendo que o pagamento à vista é o mais vantajoso, o brasileiro mantém a ideia de que para adquirir um bem ``é melhor pagar pequenas parcelas, desde que caibam no bolso``. Mesmo que isso quase dobre o valor final do produto. Porém, nem sempre é possível quitar tudo de uma vez só.
"Mas se tiver que parcelar, prefira prestações no cartão de crédito que são mais vantajosas que as realizadas via financeira (carnê ou crediário), que têm juros muito elevados. Mas há um porém: só utilize o cartão de crédito se puder pagar a fatura em 100%``, aconselha Myrian. Ela explica que quando o consumidor deixa de pagar uma parcela, terá que arcar com o rolamento dos juros do cartão, considerados os maiores do mercado.
"Se não conseguir pagar 100%, pague pelo menos uma parte de sua fatura. É melhor do que não pagar nada``, aconselha a economista. ``Lembre-se que o maior risco está nas pequenas compras``, avisa Myrian.
Parcelas
Segundo ela, o consumidor deve ficar atento no número de compras a prazo que está realizando. Isso porque a soma de todas as parcelas pode se tornar um grande montante. ``Assim pode-se comprometer todo o orçamento pessoal mensal. E é bom o consumidor também ficar atento para o fato de o mês de janeiro estar logo aí``, alerta a economista. Ela lembra que o início do ano novo é permeado de despesas extras como o pagamento de impostos e da matrícula da escola.
EMAIS
- Os juros praticados no cartão de crédito (10,68% ao mês) continuam no topo da lista das taxas mais caras para o consumidor e não se alteraram desde fevereiro de 2009, segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Nas financeiras, que oferecem o segundo juro mais alto, segundo a Anefac, a taxa média está em 10,48% ao mês.
- Muitas lojas de Fortaleza oferecem parcelamento via crediário BB, do Banco do Brasil. A taxa de juros mensal varia de 1,99% (para prazo de dois dias) a 3,22% (60 dias).
DICAS
>Prefira sempre a compra à vista e negocie desconto no valor cobrado.
>Se possível, adie suas compras para juntar o dinheiro e comprar à vista evitando juros.
>Caso não consiga pagar à vista, procure as prestações menores e sem juros.
>Prefira o cartão de crédito. Mas só se conseguir pagar as parcelas em dia, pois o rotativo dos juros são os maiores do mercado.
>Não é indicado o uso de crediários de financeiras.
>Se for pagar em longas parcelas, avalie se o produto a ser comprado terá utilidade também de longo prazo.
>Antes de sair para realizar as compras & em especial, de fim de ano & planeje quanto está propenso a gastar sem comprometer o orçamento pessoal. Lembre-se dos gastos típicos de início de ano, como pagamento de impostos e compra de material escolar.
>Faça também uma lista do que pretende comprar.
Fonte: Myrian Lundi, professora de Finanças da FGV
DIFERENÇA NO BOLSO
- Veja quanto se paga a mais na compra a prazo. As informações de produtos e preços abaixo foram retiradas de um folheto de promoções de uma grande rede de lojas de eletrodomésticos do Nordeste.
- TV de LCD
À vista: R$ 1.799
Compra parcelada: Em 24 parcelas de R$ 109,90 pelo crediário BB
Total a prazo: R$ 2.637,6
Montante de juros: paga
R$ 838,6 a mais em juros
Juros mensais: R$ 34,94
Acréscimo: 46,6%
- Forno micro-ondas
À vista: R$ 269
Compra parcelada: Em 12 vezes de R$ 26,90 pelo cartão
Total a prazo: R$ 322,80
Montante de juros: paga
R$ 53,8 a mais em juros
Juros mensais: R$ 4,48
Acréscimo: 20%
- Refrigerador com capacidade de 289 litros
À vista: R$ 749
Compra parcelada: Em 18 parcelas de R$ 67,90 pelo carnê da loja
Total a prazo: R$ 1.222,20
Montante de juros: paga
R$ 473,2 a mais em juros
Juros mensais: R$ 26,28
Acréscimo: 63,1%