29/11/2010

Exigência divide opiniões

Fonte: Diário do Nordeste
 
Desde ontem, já começou a valer a resolução da Anvisa que determina a retenção da prescrição médica

No primeiro dia de vigor da resolução Nº 44, da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), que determina a retenção de receitas para a compra de antibióticos, com o intuito de reduzir a automedicação e a resistência às bactérias, o movimento caiu um pouco nas farmácias de Fortaleza. Ontem, o Diário do Nordeste percorreu quatro estabelecimentos, dos quais em dois deles não houve procura por esses medicamentos até o fim da tarde. O fato de ser domingo, dia em que as vendas caem, também contribuiu.

Atendentes acreditam que, a partir de hoje, a busca será maior e os problemas surgirão. Os antibióticos são, normalmente, muito requisitados, mas as pessoas costumavam comprá-los sem receita, já que não havia a exigência da apresentação pelo comércio, apesar de a lei dizer que sim.

A falta de informação sobre a nova determinação também vai trazer problemas para o comércio farmacêutico. Além da queda no faturamento, os estabelecimentos terão de enfrentar os questionamentos dos clientes, como afirmou a atendente de uma farmácia localizada no Centro da Capital. Ela relatou que chegou a ser mal tratada por uma cliente que questionou por que a drogaria estava exigindo receita agora.

Adequação

"Vai ser complicado eles se adequarem à nova lei", destacou a vendedora de outro estabelecimento no Centro, Mary Sampaio. Além disso, ela acrescentou que os clientes têm levado receita comum ou então a correta, mas sem o preenchimento de todos os dados pelo médico. "É preciso solicitar duas vias do receituário de controle especial com preenchimento completo, contendo endereço, data, carimbo e assinatura do médico".

No entanto, em alguns locais, houve muita procura por antibióticos, ontem. Em uma farmácia situada na Avenida Duque de Caxias, o movimento foi intenso durante todo o dia, inclusive por telefone. Muitos clientes ligaram para saber sobre a possibilidade de comprar medicamentos sem receita. De 20 compradores, 15 não tinham a receita, como informou a balconista. "Nos casos mais graves orientamos que as pessoas procurem um médico. Mas, se o problema não for grave indicamos o uso de anti-inflamatório", disse a vendedora.

A desinformação de que a resolução valeria a partir de ontem também dificultou a venda. A auxiliar de Enfermagem, Célia Regina Raulino, precisou comprar um antibiótico para a mãe recém-operada e não levou a receita porque pensou que a lei entraria em vigor somente a partir do dia 1° de dezembro. "O jeito foi voltar ao hospital e pegar a prescrição", contou.

Pessoas com doenças crônicas que tomam antibióticos com frequência enfrentarão dificuldades. É o caso do policial militar, Francisco Juciê Queiroz de Lima, que faz uso do mesmo medicamento continuamente. Ele assume que comprava sem receita porque já sabe do seu problema. "A consulta custa R$ 60,00 e terei de ir ao médico só para pedir receita", reclamou.

A nova regra divide opiniões. Muitos acreditam que a lei vai inibir a automedicação. "Concordo com a decisão. Tem muita gente que gosta de tomar medicamento sem indicação médica. A exigência da receita vai acabar com isso", destacou a funcionária pública Maria Délia de Souza. De acordo com a nova regra, a prescrição médica para antibióticos terá dez dias de validade e deve estar sem rasura.

LINA MOSCOSO
REPÓRTER