Especialista afirma que consumidor não pode confundir a compra supérflua com um desperdício de dinheiro
Muito mais que gastar pouco, o foco para quem pensa em poupar para investir é conseguir gastar melhor. Segundo o professor de finanças pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Jurandir Sell Macedo, é preciso entender que a educação financeira não aprisiona, ao contrário, ela melhora a vida das pessoas. "Ainda é um tabu falar de dinheiro, mas ele é um lubrificante da vida. Não se pode pedir para as pessoas deixarem de consumir. O que também não pode é ser consumista. Assim, ninguém consegue pensar em poupar", diz.
O economista, que esteve ontem na Expo Money, explica que um erro comum é confundir supérfluo com desperdício. "Para mim, que gosto de viajar e fazer trilhas de bicicleta, investir em um equipamento moderno e um pouco mais caro é um supérfluo, com o qual eu posso comprometer o meu orçamento para lazer com essa compra. Já para quem a utiliza somente aos feriados, para um passeio rápido, uma bicicleta cara e cheia de ferramentas é um desperdício, qualquer uma funcionaria, além disso é um dinheiro morto", exemplifica.
Maior interesse
Para ele, aos poucos, a cultura da educação financeira está se firmando no País, sobretudo porque há quase duas décadas, quando ainda existia o fantasma de 50% de inflação, pensar em planejar as finanças era tarefa complicada. Gerações inteiras ainda vivem o reflexo negativo desse período. Por isso mesmo, os pais de hoje não são mais os grandes exemplos de educação financeira. Jurandir diz, por exemplo, que a sua disciplina na UFSC, que é aberta a todos os cursos, já é a mais procurada pelos alunos de toda a Universidade. "O jovem de agora pensa no futuro, pensa em investir, em empreender e busca informação para fazer isso desde cedo", afirma. Outra mudança que confirma essa preocupação, de acordo com ele, é o acréscimo no número de investidores na Bolsa. Se em 2002 eram apenas 72 mil, hoje já são mais de 600 mil.
O professor acredita que essa transformação não é apenas uma moda, mas uma necessidade que perpassa grandes instituições financeiras, que têm se preparado cada vez mais para atender essa demanda e investido em diversificar informações para seus clientes direta e indiretamente. "O Expo Money, evento totalmente gratuito, é patrocinado por grandes bancos", afirma. Assim, ganham as duas partes. Com mais informação, o cliente terá condições de rentabilizar seus investimentos e os bancos crescem junto.
"Doentes do bolso"
Durante a Expo Money, além das rodadas de palestras que orientavam desde a ensinar a poupar até a entender o mercado de ações no Brasil, um serviço importante esteve disponível gratuitamente para os participantes: a clínica financeira. Augusto Sabóia, consultor de planejamento financeiro familiar, explica que o atendimento é pontual e é baseado em questionário preenchido por cada endividado. "É uma espécie de pronto socorro. Depois do diagnóstico, nós entramos com a consultoria, que dura cerca de uma hora. O problema é que cerca de 80% dos "doentes do bolso" mentem na hora de passar as informações para os consultores", ressalta. A maior parte dos problemas, segundo ele, está mesmo em assumir dívidas que fogem da receita mensal. Em Fortaleza, em dois dias, cerca de 20 pessoas foram atendidas.