16/06/2010

Idosos silenciam sobre violência na família

Fonte: Diário do Nordeste
 
No Dia Mundial de Conscientização da Violência a Pessoas acima de 60 anos, alerta para a subnotificação

Uma realidade nem sempre retratada com fidedignidade pelas pesquisas, a violência contra o idoso acontece de várias maneiras, com ênfase para agressões física e psicológica, negligência ou exploração financeira. Somente em Fortaleza, o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) contabilizou 1.272 denúncias de violência contra idosos residentes na Capital, do ano de 2008 até ontem.

Já o Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (Ciaprevi), unidade da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), recebeu um total de 661 denúncias desde a sua inauguração, em junho do ano passado. Já preocupantes, os números da violência contra o idoso podem ser bem maiores, admitiu o presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Idoso (Cedi), Evaldo Monteiro, para quem existe uma elevada subnotificação, ou seja, para cada denúncia realizada, há muitos casos não registrados, e por motivos diversos.

Atividades

Ontem, Dia Mundial de Conscientização da Violência à Pessoas Idosa, componentes de grupos de convivência promovidos pela STDS se reuniram, na Praça dos Estressados, na Avenida Beira-Mar, para dançar, praticar atividades físicas e cuidar da saúde. A programação envolveu, ainda, panfletagem, serviços de verificação de pressão arterial e glicemia, sondagem de nível de estresse e memória, realização de atividades físicas e apresentação da banda de música "De Bem com a Vida", formada por idosos do Centro Comunitário Santa Terezinha.

Justamente por causa da subnotificação, "torna-se mais importante a realização de eventos como o de ontem, para conscientizar a população de uma forma agradável", frisou Evaldo Monteiro. Ele alerta para o fato de que, mesmo com diversas campanhas na mídia nacional, a situação da violência vem se agravando. "E isso se deve a vários fatores, como o uso de drogas e álcool pelos familiares que moram com o idoso", disse, comentando sobre a dificuldade de resolução do problema.

Dinheiro

No Ciaprevi, os casos chegam pelo número 0800.275.5555. A maioria das denúncias se referem à violência financeira, informa Kélvia Kelly Andrade, integrante do Centro. "O idoso vai ao banco receber o seu dinheiro e já não tem mais nada. Foram feitos empréstimos em seu nome, geralmente pelos próprios parentes", adiantou.

Para Kélvia Kelly, o medo é o principal motivo para o idoso não denunciar a violência sofrida. "Eles têm temor de perder a família, porque, para eles, é tudo o que resta. Mas aí, auxiliamos com a orientação de um psicólogo", explicou.

Enquete 
População reclama

Keila Feitosa Nogueira
51 ANOS
Professora
A AGRESSÃO ao idoso é um absurdo. Mas isso é uma questão de educação, o que ainda falta aqui no Brasil

Damião Gregório
da Silva
80 ANOS
Aposentado
Esta coação precisa ser combatida. Está demais! Graças a Deus, sou muito bem tratado pelos meus filhos

CREAS

Exploração financeira e negligência são comuns

Das 1.272 denúncias de violência contra idosos recebidas pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), de 2008 para cá, 655 foram procedentes. As denúncias são verificadas por meio de visitas domiciliares.

Nas visitas, a equipe do Creas-Fortaleza também acompanha os casos já identificados. São feitos, ainda, encaminhamentos para outras políticas públicas, dependendo da especificidade de cada caso, informou, ontem, a coordenadora da Proteção Social Especial do Município, Andreia Cortez.

A unidade faz atendimentos individuais psicossociais e jurídicos, acompanhando cada caso de violência. Ela explicou que a violência financeira contra o idoso é a mais perceptível no Creas. Junto com esse problema, costuma vir a negligência. Isso porque, muitas vezes, netos ou filhos utilizam o dinheiro do idoso, deixando-o sem recursos até para a compra de alimentos e remédios. Há, ainda, o descaso com banhos e outras atividades de higiene pessoal.

Perda da autonomia

"Os idosos costumam entregar aos parentes o cartão da aposentadoria com a senha", frisou Andreia Cortez, explicando que, ao retirarem o dinheiro do banco, o idoso perde a autonomia de gerenciá-lo. "São feitos até empréstimos", observou. Na terceira idade, a mulher, que em nossa cultura é tida como mais frágil, sofre maior discriminação do que o homem.

MOZARLY ALMEIDA
REPÓRTER