29/11/2010
Há três meses em funcionamento, Central ainda é desconhecida da população, apesar do preço e do passeio
Se
os ônibus que cruzam as ruas congestionadas do Centro estão quase
sempre lotados, com passageiros "pendurados" na porta, há uma
alternativa ainda pouco conhecida: a Linha Central (061), que faz um
trajeto pelas principais vias de comércio por R$ 0,40 e com a vantagem
de se ir quase sempre sentado, observando a beleza histórica da
Capital.
No trajeto, é possível viajar pela memória
arquitetônica de Fortaleza do século XX, vendo pela janela a Catedral,
Passeio Público, Praça da Estação, Parque das Crianças e outros
atrativos, como o Centro de Pequenos Negócios (CPN), antigo Beco da
Poeira.
O presidente da Empresa de Transporte Urbano de
Fortaleza (Etufor), Ademar Gondim, anunciou que vai aumentar a
divulgação da linha neste mês e espera um aumento de fluxo devido ao
período de compras natalinas.
Com sacolas nas mãos, o autônomo
Francisco de Assis aprovou a iniciativa da criação da linha, mas
reclamou do fato de só haver dois ônibus circulando, da grande espera
na parada e na restrição de só aceitar vale transporte eletrônico. Ele
fez compras na Rua Senador Alencar e ia se deslocar até o Parque das
Crianças.
O trajeto que antes era feito a pé pela quase ausência
de linhas que rodavam pelo Centro e que foram impedidas de circular
pelas obras do Metrô de Fortaleza. "Está ruim andar, é muito camelô,
assalto e sol quente. Pego o Central todo dia, ajudou muito quem faz
compras e não tinha outra alternativa", comentou.
Em
funcionamento há apenas três meses, a Central ainda é pouco usada,
levando menos de 200 passageiros por dia, disse o motorista Maurício
Oliveira, de 44 anos. A estimativa de público da Etufor era de cerca de
800 por dia. "Nem todo mundo sabe que existe essa linha.
Seria
bom divulgar mais, já que dá para se deslocar com conforto e ir até
sentado, sem muita lotação. É até bom para os turistas que querem
conhecer os pontos turísticos e para quem anda com muitas compras e não
quer ficar se cansando", disse.
O trajeto dura cerca de 30
minutos e parece uma boa desculpa para circular entre as ruas que deram
origem a Fortaleza que hoje conhecemos. No itinerário, o ônibus trafega
pela Rua Castro e Silva, Avenida do Imperador, Rua Pedro Pereira, Rua
Pinto Madeira, Rua 25 de Março, Rua Costa Barros, Rua São José, Rua
Rufino de Alencar, Rua Dr. João Moreira e Rua 24 de Maio. A linha opera
nos dias úteis até as 20h e nos sábados até as 16h.
Para o
presidente da Etufor, Ademar Gondim, o mais interessante da Central é
acostumar as pessoas com a integração temporal e a complementação
tarifária que virá com o Metrofor. "Se o passageiro vier, por exemplo,
da Avenida Bezerra de Menezes e tiver como destino a Rua 25 de Março
terá a possibilidade de integrar temporalmente com a Linha Central e
com transporte alternativo. Estamos em fase de teste e vamos apostar
mais na divulgação", disse.
MAIS INFORMAÇÕES
Dias
úteis até as 20h; sábados, até as 16h; vale transporte eletrônico, vale
transporte avulso; e carteira estudantil com crédito; R$ 0,40 (inteira)
e R$ 0,20 (meia)
VÁRIAS VISÕES
Uma viagem que passa pela história de Fortaleza
Olhando
a cidade pela janela, o ex-jogador de basquete profissional, Francisco
Alfredo Homsi, de 68 anos, desvia o olhar do tumulto de pessoas que
estão na "corrida" pelas compras e se centra no que os prédios
históricos lhe comunicam. "Acho esse percurso bonito, principalmente
quando passo em frente à Catedral e ao Passeio Público. É uma viagem
bela, de muita riqueza cultural até para quem não é turista", comentou.
Ele até deu a ideia à Prefeitura de colocar, nos ônibus da
linha, alguns cartazes com informações de cada um dos pontos que o
coletivo passa. Desatenta à paisagem e ligada nas suas sacolas, a
manicure Crislane Teixeira, de 25 anos, disse nem se importa com o que
vê, acha tudo muito sujo, desorganizado e sem graça. "Antigamente tinha
mais beleza, hoje acabou. Tudo foi derrubado, virou estacionamento e
comércio, perdeu a graça", frisou.
Para o historiador e
professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gleudson Passos, a
riqueza arquitetônica do Centro fica invisível, perdida em meio ao
caos, à desordem e à falta de sinalização e informação histórica nos
pontos turísticos. Tombar, preservar, restaurar e reutilizar são passos
importantes para a valorização desse circuito histórico. "Acho legal a
ideia dessa linha de ônibus circular pelos monumentos.
IVNA GIRÃO
ESPECIAL PARA CIDADE