Tomar vários comprimidos de uma vez para aliviar as cólicas. Seguir conselhos de vizinhos e amigos para curar dores no joelho. Parar o tratamento com medicamentos por conta própria. Essas atitudes fazem parte da lista do uso inadequado de medicamentos. Em todo mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade dos medicamentos são utilizados indevidamente. Esse uso irracional de remédios tem causado prejuízos à saúde, além de desperdício de recursos. A discussão é tema do III Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamento, que prossegue até amanhã, no Centro de Convenções.
De acordo com o diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Miguel do Nascimento Júnior, o uso errado de medicamentos, além de desencadear diferentes efeitos colaterais, pode provocar intoxicação. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (Sinitox), os medicamentos são considerados os principais agentes tóxicos, correspondendo a cerca de 28% dos casos de intoxicação humana registrados anualmente. ``As pessoas usam o medicamento errado, vencido. Ou então exageram na dose. É preciso ter cuidado``, alerta.
Antibióticos, antiinflamatórios e medicamentos para emagrecer estão entre os mais usados de forma errada, conforme a médica Thais Queluz, membro do Comitê Nacional para Promoção do Uso Racional de Medicamentos do Ministério da Saúde. Para ela, o uso indevido é consequência da atual sociedade ``medicalizada``, que acredita que os medicamentos resolvem todas as dores. ``Até uma grande tristeza, as pessoas querem resolver sempre com antidepressivos``, comenta. Ela aponta a automedicação, a superdosagem e o não cumprimento das recomendações médicas como uso irracional de medicamentos pela população.
Além dos problemas de saúde, a utilização de medicamentos de forma errada leva a prejuízos financeiros. Segundo Miguel do Nascimento, sem o uso adequado dos remédios, o tratamento das doenças ficará cada vez mais difícil e custoso. ``O sistema de saúde acaba tendo que dispor de muitos recursos para resolver outros problemas que aparecem após o uso indevido de um medicamento``.
Prescrição
A hora de prescrever também é apontada como uma das causas do uso incorreto de medicamentos. De acordo com José Luis de Castro, representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no III Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamentos, os profissionais devem ser cautelosos no momento de receitar um remédio. ``Vamos usar o medicamento em patologias reais``, sugere. Para ele, as patologias ``reais`` são aquelas que necessitam realmente de medicamento para a cura. Ele explica que para prevenir e tratar algumas doenças, é necessário apenas uma mudança no estilo de vida.
(Gabriela Meneses)
E-MAIS
> A pesquisadora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Clarice Petramale, lembra ainda do perigo da prescrição de medicamentos nos hospitais de alta complexidade. De acordo com ela, esses locais recebem com frequência medicamentos novos e pouco conhecidos. O que representa um risco de prescrição errada.
>``Um medicamento novo, que você não conhece, há mais chances de errar, pois não há tantas evidências de que ele realmente vai servir para aquele fim``, explica.
> A prescrição de medicamentos, conforme o diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Miguel do Nascimento Júnior, só pode ser feita por médicos, médicos veterinários e odontólogos. Em alguns casos, aceita-se também a prescrição feita por enfermeiros.
CUIDADOS COM REMÉDIOS
>Não utilize remédios sem orientação médica;
> Nunca use medicamentos com prazo de validade vencida;
> Nunca deixe de ler o rótulo ou a bula antes de usar qualquer medicamento;
> Matenha remédios trancados e fora do alcance das crianças;
> Não dê remédio no escuro para que não haja trocas perigosas;
> Mantenha os medicamentos nas embalagens originais;
> Cuidado com remédios de uso infantil e de adulto com embalagens muito parecidas; erros de identificação podem causar intoxicações graves e, às vezes, fatais.
FONTE: Site do Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (Sinitox)