08/09/2014

O sentido da vida

Durante muitos séculos, mesmo milênios, o grande sonho da humanidade foi o de prolongar a vida. Querer viver mais. Quando Cristo morreu – aos 33 anos – ele já era um homem maduro, adulto. É que a vida média, naquele tempo, não passava dos quarenta. Agora, dizemos que Ele faleceu muito jovem...Assim, ao longo do tempo, com ajuda dos avanços da medicina e dos cuidados de saúde, fomos ganhando mais anos, mais vida. Depois, passamos a falar em qualidade de vida. Não apenas viver muitos anos, mas viver com satisfação, autônomo, sem doenças a incomodar.

Mesmo nesse aspecto também avançamos. Hoje é comum vermos idosos pelas ruas, em lugares públicos: bancos, escolas, consultórios, igrejas... Estando presente. Participando do mundo. Essa perspectiva que parece tão fantástica, foi quebrada - em meu momentâneo pensamento - por duas notícias que li, essa semana, na imprensa. Primeira, a manchete diz tudo: “O número de eutanásia explode na Bélgica.” Depois de 2002, por lei, é obrigatória a declaração e, no período 2010-2012, naquele país, houve um crescimento de mais de 50% nessas notificações. Sem falarmos dos casos não informados. Há com o que nos preocuparmos.

A segunda informação, também deu manchete: cerca de 800 mil pessoas se suicidam todos os anos no mundo, ou seja, uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos. Uma cifra maior que as vítimas de guerra ou de catástrofes naturais, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A maioria das pessoas que cometem suicídio tem mais de 50 anos e o suicídio afeta duas vezes mais os homens do que as mulheres.

Cabe a pergunta: o que está acontecendo com o bicho homem? Por que essa repentina falta de “gosto pela vida”? Nosso projeto biológico foi estendido além do limite? A vida fica monótona? Perdemos a curiosidade? Ficamos sós? Não temos mais grana e a possibilidade de consumir?

A resposta não pode ser única. Existem muitos fatores. Talvez as dores. Talvez as dificuldades em se locomover, enxergar, escutar, participar... A solidão.

Chamar isso tudo de depressão é profundamente simplista. Ou mesmo que um remédio mágico pode curar a angústia de ser humano. Talvez a gente deva começar por questões mais elementares... algo como, qual é mesmo o sentido da vida?


Antonio Mourão Cavalcante para o JORNAL O POVO
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Médico e antropólogo. Professor universitário