A princípio limitados a feiras especializadas e a associações de produtores/consumidores, os alimentos orgânicos ocupam cada vez mais espaço nas prateleiras dos supermercados brasileiros e já são o foco das atenções dos consumidores. O Pão de Açúcar e o Wal-Mart, por exemplo, relatam crescimento de 40% e 20% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2008. E isso considerando produtos com oferta restrita e mais caros que os convencionais. A preocupação com a saúde explica o desenvolvimento desse mercado, também muito antenado às questões ambientais.

Em Fortaleza, essa realidade não é diferente. Em 1997, com a orientação do engenheiro agrônomo Richard Charity, foi criada a Associação para o Desenvolvimento da Agropecuária Orgânica (Adao), hoje com uma média de 450 associados consumidores.

Hoje, no entanto, o Portal do Orgânico já supera a Adao, pela variedade, oferecendo aproximadamente 60 produtos ao longo do ano, pois um dos princípios da agricultura orgânica é garantir a sazonalidade natural da produção. No mercado dos orgânicos, os hortifruti são destaque absoluto, embora, aos poucos, muitos outros produtos evoluam a ponto de conquistar certificação.

Sandra Porto de Souza, que é filha e irmã de produtores orgânicos, durante dez anos foi gestora da Adao e, desde novembro passado, vem empreendendo todos os seus esforços para que o Portal do Orgânico dê certo.

Hoje, além de vender os produtos, há projeto para abertura diária do espaço, a partir de junho, e também para oferecer café da manhã e jantar no espaço onde os produtos são comercializados.

Ao ousar abrir um negócio mantido exclusivamente com produtos de origem orgânica, Sandra é questionada sobre a possibilidade de diversificação para o comércio de produtos naturais, mas não abre mão dos seus princípios por mais que isso lhe custe muito.

Para um produto ser orgânico, lembra há muitos rigores a serem preenchidos: “Um produto que utiliza mão-de-obra infantil ou que não garante os direitos trabalhistas aos seus empregados jamais conquistará o selo orgânico”, esclarece.

Talvez uma herança do sistema cooperativo de tempos de Adao, Sandra tem contado com o apoio dos consumidores do Portal do Orgânico para investir na diversificação de produtos e serviços ofertados.

No Grupo Gestor da Serra da Ibiapaba, que conta com suporte do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE), fez uma programação de plantio com a garantia da compra. “O produtor orgânico é muito sensível. Se não vende, transforma o excedente em composto, mas isso é prejuízo. Ele precisa de motivação”, destaca.

No momento, o Portal do Orgânico conta com a Associação dos Produtores Orgânicos de Croatá (Aponc) e Associação dos Produtores Orgânicos de Agudo, em Ibiapina; e negocia com a Associação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (Apoi) e o Jaburu Orgânico.

Mesmo com todos esses apoios, ela admite que não é fácil se manter em seu ideal: “É preciso gostar, ter muita afinidade e talvez eu tenha isso por ter sido criada no campo”.

Além da venda direta, terças e sextas-feiras, das 7 às 14 horas, faz entregas em domicílio para compras a partir de R$ 10,00, com taxa de entrega de R$ 5,00, com pedidos por telefone ou Internet.

Mais informações:
Portal do Orgânico
Rua Assis Chateaubriand, 381 - Dionísio Torres. Fone: (85) 3224.9002. Site: www.portaldoorganico.com.br

COOPERAÇÃO MÚTUA
Produtores e consumidores associados

A Associação para o Desenvolvimento da Agropecuária (Adao) surgiu em 1997, com recursos privados e sem fins lucrativos, estabelecendo um elo entre produtores e consumidores de produtos orgânicos no sistema de Agricultura Motivadas pelo Consumidor (AMC), partindo do princípio de que orgânico é muito mais que um produto livre de agrotóxico, mas um organismo onde solo, planta, animal e ser humano interagem harmoniosamente com o meio ambiente.

Os encontros entre produtores e consumidores associados ocorrem todas às sextas e terças-feiras, das 6 às 11 horas. Mediante uma taxa mensal, o consumidor recebe semanalmente hortaliças, leguminosas e frutas colhidas na véspera pelos produtores.

Os produtos estão classificados em quatro categorias de preço, que variam hoje entre R$ 1,62 e R$ 4,88. A taxa de adesão é de R$ 79,00 e as taxas mensais podem ser de R$ 50,00, R$ 80,00 e R$ 100,00, dependendo do consumidor. Há também a opção por uma cesta padrão, com dez produtos da estação, por R$ 80,00 mensais. Produtos como leite, iogurte, queijo, ovos, carnes, farinhas, pães, bolos, doces e outros são excedentes, também sendo incluídos no boleto de pagamento mensal.

Coordenador da distribuição há apenas dois meses, Felipe Façanha Bandeira conta que chega ao local na véspera, às 10h30, para recepcionar os produtores, atualmente responsáveis pelo frete, e só descansa uma hora após o fim da comercialização.

Atualmente contando com 450 associados consumidores, a Adao tem dez produtores, a maioria de Guaraciaba do Norte, e mais um de Mulungu e outro de Cascavel. Além das hortaliças e leguminosas, são comercializadas melancia, laranja, limão, goiaba, banana e mamão, no momento, devido à sazonalidade dos orgânicos.

Princípios

A produção orgânica tem como base princípios agroecológicos que orientam o desenvolvimento de sistemas produtivos. Eles buscam preservar a vida e promover a sustentabilidade econômica, social e ambiental. O consumidor desses produtos, além de levar para casa alimentos saudáveis, provenientes de sistema produtivo que não utiliza agrotóxicos ou materiais sintéticos, contribui para o fortalecimento de uma produção que respeita o planeta e os seres vivos que o habitam.

Mais informações:
Adao
Rua Antônio Furtado, 1040 - Dionísio Torres
Fone: (85) 3272.7065
E-mail: [email protected]

Maristela Crispim
Repórter

ENQUETE
Por que consumir produtos orgânicos?

Ernandi Mendes
47 ANOS
Professor

A agricultura convencional desenvolveu-se contra a saúde das pessoas. Consumo produtos saudáveis como antídoto

Margarida Andrade
61 ANOS
Arquiteta

Além de serem produtos saudáveis, tem o aspecto coletivo da produção, que não tem atravessadores