15/06/2009

Pacto do silêncio é maior barreira contra violência

Fonte: Diário do Nordeste
 
Privações, constrangimentos, agressões e a cultura predominante na sociedade de desvalorização, desrespeito e banalização dos mais velhos serão temas em debate hoje, quando se comemora o Dia Internacional de Combate à Violência Contra o Idoso.

Em Fortaleza, diversos eventos estão previstos para marcar a data e buscam, na maioria dos casos, denunciar as péssimas condições de vida daqueles que se encontram na terceira idade ou melhor idade.

Com ou sem eufemismo, o certo é que os sofrimentos e as violências tão comuns na velhice acontecem com a omissão dos governantes e da sociedade em geral e, quase sempre, com o silêncio dos oprimidos.

Somente de janeiro a maio deste ano, 243 casos de violência contra idosos foram atendidos pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) do Município, com destaque para as ocorrências de violência psicológica, abuso físico, financeiro e negligência. Já em 2008, o número de atendimento ficou em 528.

Os registros resultam de denúncias que chegam através do Fala Fortaleza dos centros de Referência da Assistência Social (Cras). Nesse serviço, que atende pelo número 0800 285.0880, as notificações de abusos, maus-tratos e desrespeitos chegam a 62,20%. O restante vem de ocorrências registradas por hospitais, Ministério Público, Distritos da Assistência Social, Centros de Saúde e demais instituições públicas.

Segundo a assistente social e coordenadora adjunta da Proteção Social Especial, da Secretaria Municipal de Assistência Social, Andréia Cortez, são muitos os tipos de violências cometidos contra os idosos, porém aponta como os mais comuns o abuso financeiro, a negligência e o abandono.

O abuso financeiro, explica, é praticado principalmente por parentes próximos, como filhos e netos. Dos atendimentos feitos nas unidades do Município com o idoso, em 23% dos casos há registro de violência e em cerca de 60% desses envolve a apropriação indevida de dinheiro, via de regra oriundo da aposentadoria.

E isso acontece até mesmo com pessoas que estão na velhice porém ainda lúcida. Nesse tipo de violência, muitas vezes ocorre de um familiar utilizar o cartão da aposentadoria do idoso para fazer o chamado empréstimo consignado. “Assim, retira-se o dinheiro do idoso, deixando-o em grandes dificuldades”, disse Andréia Cortez. Sem recursos financeiros, o ancião se vê privado de remédios e até de alimentação.

A gerente e assistente social do Lar Torres de Melo, Marlene Severo, também confirma não ser rara essa ocorrência entre os acolhidos pela instituição. A gerente do asilo afirma que ali já foram registrados casos em que familiares foram ao local, retiraram o interno — alegando que ele iria morar em sua residência —, usaram o seu cartão de aposentadoria e depois o devolveram ao Torres de Melo. “A ´devolução´ já aconteceu com apenas dois dias depois da retirada do interno com essa finalidade”, depõe.

Assim como Andréia Cortez, Marlene Severo é enfática ao ponderar que o maior entrave para barrar as diversas formas de violência contra os mais velhos vem da própria dificuldade do agredido de denunciar o seu agressor.

“Há sempre um vínculo afetivo, por isso eles são os primeiros a esconder para não prejudicar um filho ou um neto agressor, por exemplo”, enfatizou Andréia Cortez, lembrando que um dos objetivos das campanhas realizadas hoje o pelo Município é romper com o pacto do silêncio.

“Hoje, há até mesmo um movimento para limitar o valor dos empréstimos feitos com o cartão dos idosos”, cita.

Mediante a denúncia, o Centro de Referência de Assistência Social (Creas) averigua a veracidade, que inclui visitas domiciliares. Constatado o risco de vida, o anciã é encaminhado para Promotoria de Defesa e Cidadania do Idoso do Estado. “Inicialmente, se busca reatar o convívio familiar.

Mozarly Almeida
Repórter