O esforço de muitos fazendários, ao criarem a Fundação Sintaf há cinco
anos, foi concretizado no último dia 15 de maio, quando o Sindicato dos
Fazendários do Ceará (Sintaf) e a Assembleia Legislativa lançaram o
programa “Qualificação da Gestão Pública Municipal para a Redução da
Pobreza e Desigualdade no Ceará”. O evento, presidido pela reitora da
Universidade do Parlamento Cearense (Unipace), deputada Patrícia Saboya,
contou com a presença de prefeitos, vereadores, professores, servidores
públicos e representantes de entidades afins.
O lançamento do Programa marca o início da atuação da Fundação Sintaf
nos municípios do interior do Estado, visando contribuir para a
estruturação tributária das prefeituras e para uma gestão mais eficiente
das finanças públicas. Cedro e São Gonçalo do Amarante foram escolhidos
como municípios-piloto para o desenvolvimento do Programa, que será
estendido a outras prefeituras que se interessarem pelas ações.
Também foi lançado, na oportunidade, o Curso de Especialização em
Gestão Municipal, ofertado por meio da Fundação Sintaf e da Unipace. O
objetivo do curso é capacitar servidores municipais de todo o Estado a
lidar com os novos cenários institucionais, econômicos, ambientais e
tecnológicos, visando o funcionamento mais eficiente dos municípios. As
inscrições para o curso prosseguem até o dia 24 de maio e a previsão de
início das aulas para a 1ª turma é dia 14 de junho.
Também foi divulgado, no evento, pesquisa desenvolvida pelo Laboratório
de Estudos da Pobreza (LEP/Caen/UFC) sobre a “Eficiência da
Administração Tributária e redução da pobreza nos municípios cearenses”.
O estudo demonstrou que a dificuldade em gerar receitas próprias e a
consequente dependência financeira aos repasses constitucionais do
Estado e da União prejudicam a capacidade dos municípios em
implementarem as políticas públicas necessárias para fomentar o
desenvolvimento local, visando mitigar a pobreza extrema.
Oportunidade para os municípios
Na abertura do evento, a reitora Patrícia Saboya ressaltou que aquele
era um momento muito especial para o Ceará, sendo uma oportunidade para
os gestores públicos e parlamentarem refletirem sobre a relação direta
entre a questão tributária e os índices de pobreza nos municípios
cearenses. Mostrou ainda sua satisfação com o convênio entre a
Universidade do Parlamento Cearense (Unipace) e a Fundação Sintaf, “que
oportunizará aos municípios não apenas arrecadar melhor, mas também
gastar melhor seus recursos, que são poucos, contribuindo para melhorar o
nível de vida dos cearenses”.
Coube ao diretor do Sintaf, Nilson Fernandes, contextualizar os
presentes sobre a iniciativa. Ele afirmou que o Sindicato havia se
engajado em projetos dessa natureza porque os fazendários acreditaram
que poderiam contribuir, com seu conhecimento, para a evolução do Estado
– indo além das questões corporativas. Assim, Nilson falou sobre a
importante parceria com o Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), desde
a sua fundação, em 2006, sobre a criação da Fundação Sintaf e a recente
parceria com a Unipace. “O que trazemos aqui é uma resposta dos
fazendários à pesquisa do LEP, que aponta que os municípios mais pobres
não possuem uma administração tributária estruturada. Podemos mudar,
sim, o futuro do nosso Estado; bastam homens e mulheres de coragem e
determinação”, concluiu.
Eficiência Tributária e pobreza
Em
seguida, o coordenador executivo do Laboratório de Estudos da Pobreza
(LEP/Caen/UFC), prof° João Mário França, apresentou o resultado da
pesquisa “Eficiência da Administração Tributária e redução da pobreza
nos municípios cearenses”. Na ocasião, o professor declarou que o Ceará
ainda possui um grande número de municípios onde não há uma organização
tributária eficiente, cuja fonte de receita própria é muito baixa ou
mesmo insignificante. Assim, esses municípios dependem em grande parte
das transferências constitucionais do Estado e da União.
E qual seria o efeito do incremento da eficiência técnica na
arrecadação dos impostos municipais na proporção de pobres do município?
Foi este o objeto da pesquisa, que teve 86 municípios cearenses como
amostra. O estudo adotou uma linha como fronteira da eficiência
tributária e detectou que, em 2010, apenas 13 municípios (16% da
amostra) se enquadravam como municípios eficientes. “Em relação ao ano
2000, quando cerca de 20 municípios sequer cobravam IPTU e ITBI, houve
uma melhora no ano de 2010, mas ainda há um espaço muito grande para
melhorar essa eficiência tributária”, declarou.
Após apresentar os dados da pesquisa – que estão disponíveis nos sites
do Sintaf e da Fundação Sintaf – o professor concluiu sua apresentação
atestando que aumentar a eficiência técnica na arrecadação dos impostos
municipais certamente tem efeito na redução da proporção de pobres dos
municípios, daí a importância de qualificar as gestões públicas.
Conforme aponta a pesquisa, reforçar a competência dos governos locais
na arrecadação tributária parece convergir com os objetivos das
políticas de desenvolvimento social.
Capacitar e compartilhar
O professor do mestrado profissional em Economia da UFC e diretor do
Sintaf, Chico Marcelo, informou os presentes – e também os
telespectadores que acompanhavam o evento pela TV Assembleia – sobre o
Curso de Especialização em Gestão Municipal, ofertado por meio da
Fundação Sintaf e da Unipace. O público-alvo são servidores e agentes
públicos municipais que atuem na Administração Pública Municipal direta e
indireta. As inscrições prosseguem até o dia 24 de maio, na Fundação
Sintaf (Rua Agapito dos Santos, 300 – A), fone (85) 3223-6644.
O curso possui, em seu corpo docente, técnicos da Secretaria da Fazenda
do Estado do Ceará (Sefaz) com sólida formação acadêmica e grande
experiência profissional, que irão compartilhar seu conhecimento teórico
e prático com os agentes públicos municipais. “Em um primeiro momento, o
elemento motivador para iniciarmos esse projeto foi o compromisso em
transmitir a experiência acumulada. Mas não foi só isso: o que despertou
os fazendários foi a consciência de vivenciar uma cidadania plena”,
asseverou Chico Marcelo.
Mais informações sobre o Curso de Especialização em Gestão Municipal
podem ser obtidas através do site da Fundação Sintaf,
www.fundacaosintaf.org.br, e do e-mail [email protected].
Municípios-piloto em ação
Na ocasião, a diretora-geral da Fundação Sintaf, Elenilda dos Santos,
assinou um termo de cooperação entre a entidade e as prefeituras de
Cedro e São Gonçalo do Amarante, a fim de que o trabalho seja iniciado
junto a estes municípios. Os termos foram assinados pelos gestores das
duas cidades: Nilson Diniz, prefeito de Cedro, e Cláudio Pinho, prefeito
de São Gonçalo do Amarante. “Os problemas que ainda vemos em vários
municípios do nosso Estado remontam ao Brasil Colônia, quando as
províncias tinham grande dependência financeira junto ao poder central.
Nossa grande esperança é que este trabalho possa contribuir de maneira
efetiva para o crescimento dos municípios e o desenvolvimento do nosso
Estado”, declarou a diretora-geral da Fundação Sintaf.
Visivelmente animados com a iniciativa, mas também conscientes do
grande desafio que estão abraçando, os prefeitos dos municípios-piloto
do Programa parabenizaram o protagonismo do Sintaf e da Fundação Sintaf e
se comprometeram com a nova missão. O prefeito de Cedro, Nilson Diniz,
ressaltou que o município, de 25 mil habitantes, enfrenta várias
dificuldades, como pouca qualificação dos servidores, problemas de
estrutura e equipamentos, cultura política local de não arrecadar,
dentre outras. Cerca de 26% da população vive na extrema pobreza e o
município conta com apenas 3% de arrecadação própria. “Nós temos muitos
problemas para resolver”, afirmou o Prefeito de Cedro. “Esta é uma
oportunidade também de contagiarmos outras instituições para montar
parcerias. As instituições precisam se envolver nesse processo, a
exemplo do Sintaf, que extrapolou sua atuação e nos disponibilizou
capital intelectual”.
O prefeito Nilson Diniz aproveitou a oportunidade para lançar um bom
desafio à deputada Patrícia Saboya. “Já que os municípios são
penalizados quando não fazem o dever de casa – quando não atingem as
metas estabelecidas pelo Governo, por exemplo –, por que não incentivar,
através de um suplemento, aquele que estão melhorando sua arrecadação e
se destacando como municípios empreendedores?”, pleiteou o Prefeito,
afirmando que é preciso diferenciar aquelas gestões que querem
transformação e crescimento. A deputada Patrícia Saboya classificou a
ideia como extraordinária e aceitou o desafio, esperando contar com a
ajuda dos fazendários para colocar o projeto no papel.
Já o prefeito de São Gonçalo do Amarante, Cláudio Pinho, afirmou que
apesar do município ser considerado rico, por contar com investimentos
públicos e privados por conta do complexo industrial e portuário do
Pecém, cerca de 20% da população vive abaixo da linha da pobreza. “Temos
pouca receita de IPTU e não temos auditores municipais nem nota fiscal
eletrônica”, expôs o Prefeito. “Não temos uma administração tributária
eficiente e estamos muito felizes com essa abertura do Sintaf e a
Fundação Sintaf. Vemos aqui o real desejo de transformar os municípios.
Este é um momento histórico para São Gonçalo, para Cedro e para o
Ceará”, ratificou Cláudio Pinho.
Excelência dos fazendários
Convidado
a se pronunciar, o diretor-geral do Instituto de Pesquisa e Estratégia
Econômica do Ceará (IPECE), Flávio Ataliba – um dos fundadores do LEP –
reconheceu na oportunidade que o Sintaf e a Fundação Sintaf buscam
colocar em prática as iniciativas propostas nas pesquisas do Laboratório
de Estudos da Pobreza. “Por mais que os governos Estadual e Federal se
esforcem, os municípios têm papel fundamental na transformação da
realidade atual. Aqueles que são muito pobres e não têm a capacidade de
arrecadar precisam reverter essa lógica. Quando os recursos arrecadados
são bem aplicados, são fundamentais para melhorar a qualidade de vida da
população, através de educação, saúde, praças bem cuidadas e muito
mais”, assegurou.
Ataliba parabenizou os fazendários do Ceará pela excelência na
arrecadação do Estado – recursos que são investidos no desenvolvimento
do Ceará. Quanto ao Programa lançado, afirmou que a iniciativa vai de
encontro aos anseios do povo cearense. “Os prefeitos devem levar um
discurso diferente à população: a arrecadação de impostos é essencial
para o município dar aquele salto de qualidade que necessita para mudar a
sua história”.
Presente ao evento, o secretário de Finanças de Fortaleza, Jurandir
Gurgel, afirmou que estava vivenciando um momento ímpar enquanto
fazendário, filiado ao Sintaf e ex-diretor-geral da Fundação Sintaf.
“Desde o 1º Encontro de Finanças Públicas, em 2011, tínhamos essa
preocupação em buscar a eficiência da administração tributária dos
municípios visando reverter o quadro de pobreza”, disse o Secretário.
“Isso mostra o tamanho do desafio dos fazendários, que também devem
levar a sociedade a compreender a relação do Fisco com a promoção de uma
sociedade menos desigual”, atestou.
Luta de todos os cearenses
Ao fechar o evento, a deputada Patrícia Saboya agradeceu por aquele
momento e conclamou todos a se engajarem na luta contra a pobreza e a
redução das desigualdades no Ceará – “uma luta de todos os cearenses”.
“Esperamos que a nossa parceria com a Fundação Sintaf dê muito certo,
pois este é um passo significativo para o futuro do nosso Estado”,
afiançou a deputada. “Que a população possa reconhecer que os fiscais
são mais que arrecadadores de impostos, mas são fazedores do bem, como
vimos hoje aqui”.
Confira os depoimentos de quem participou do lançamento do Programa
Guto Mota, vereador de Tejuçuoca e secretário-geral da União dos
Vereadores do Ceará (UVC): “Nós, da UVC, ficamos interessados nesse
programa, pois é uma forma de capacitação a qual poderemos
posteriormente difundir aos demais vereadores, principalmente para os
presidentes de Câmaras Municipais. Estamos há apenas um mês nessa
diretoria, mas todas essas iniciativas pela busca de conhecimento e pela
qualificação fazem parte da nossa gestão. Eu e outro vereador (Lourival
Chaves, de Catarina), estamos nos inscrevendo no Curso de
Especialização em Gestão Municipal da Fundação Sintaf e vamos divulgá-lo
junto aos demais vereadores e presidentes de Câmara para que todos
possam se capacitar”.
Acrísio Sena, vereador de Fortaleza: “O Sintaf, com essa iniciativa,
passa a fazer um diálogo junto aos 184 municípios do Ceará,
principalmente no que diz respeito à eficiência da administração pública
e, acima de tudo, com um trabalho de redução da pobreza, que são dois
desafios pertinentes. Esse trabalho de disseminar a gestão pública junto
às prefeituras para aperfeiçoar os recursos com sua aplicação eficiente
mostra uma nova face do sindicalismo”.
Cláudio Pinho, prefeito de São Gonçalo do Amarante: “A assinatura deste
convênio com a Fundação Sintaf marca uma nova era para São Gonçalo do
Amarante, porque nós vamos poder elaborar um novo código tributário,
seremos capazes de fazer a nota fiscal eletrônica, vamos preparar o
concurso para Auditor Fiscal Municipal, pois não temos hoje, no
município, o Auditor para fiscalizar as empresas. É um novo momento para
São Gonçalo do Amarante e somos gratos por isso, pois o município
caminha para um novo quadro e se não tiver uma eficiência administrativa
e tributária, haverá desperdício de recursos”.
Nilson Diniz, prefeito de Cedro: “Cerca de 80% dos municípios cearenses
são pobres e há uma grande dificuldade em se conseguir estruturar o
sistema de arrecadação do município. Hoje, com esse programa da Fundação
Sintaf, existe uma abertura para que isso seja possível. Nosso objetivo
como Prefeitura é o mesmo da Fundação: melhorar a arrecadação, melhorar
nossa estrutura física e principalmente melhorar a vida das pessoas.
Essa parceria com certeza abrirá caminhos para novas buscas em torno de
outras capacitações”.
Carlos Cardoso Filho, da Federação Nacional dos Auditores e Fiscais de
Tributos Municipais (Fenafim): “É preciso levar esse tipo de debate para
todo o País e a Fenafim vai empreender esforços nesse sentido. Sabemos
que o município é o melhor local para promover uma justiça social maior
por conta da sua arrecadação. Toda tributação que é sobre serviços ou
mercadorias tem seu ônus repassado ao consumidor final, fazendo todos
pagarem igualmente. Mas quando a tributação é sobre patrimônio (a
exemplo dos impostos municipais, como IPTU e ITBI), é possível dosar a
tributação e fazer com que as classes menos favorecidas paguem menos, e
possam receber melhores serviços. O município é o lugar ideal para fazer
esse tipo de política”.
Flávio Ataliba, diretor-geral do IPECE: “É muito importante que nesse
momento atual, onde diversos novos prefeitos assumiram suas gestões,
possamos observar o aspecto social do Ceará, visando a redução da
pobreza – o que passa diretamente pela ação dos prefeitos. Essa
discussão promovida pela Fundação Sintaf em torno dessa questão é
fundamental, especialmente porque sabemos que a capacidade de
desenvolver políticas para atender essa demanda passa diretamente pela
capacidade que os municípios devam ter em termos de recursos financeiros
para realizá-las”. |