18/06/2014

Trajetória de uma vida

Com o chegar do fim do período de minha permanência de quase 48 anos na Secretaria da Fazenda é que me dispus a escrever algumas palavras para as minhas colegas e os meus colegas que fizeram e fazem esta casa.

Parece até que foi ontem, quando eu com todo o vigor de minha juventude, após me submeter e ser aprovado em concurso, cruzei, em agosto de 1964, de forma garbosa e orgulhosa a bela porta de entrada da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará, que era de madeira trabalhada com seus puxadores de bronze, encimada por uma bela bandeirola de vidros coloridos , que atualmente já não mais existe .

A visão da bela escadaria de madeira, tendo como pano de fundo o grande vitro retratando as fontes das riquezas do nosso Estado e os balcões de madeira entalhada com grandes peças de mármore de carrara sobre os mesmos, formavam uma imponente visão que enchiam os meus olhos de admiração.

Compunha eu a primeira turna dos Ajudantes de Arrecadação R- 11, que era composta , na sua grande, parte por jovens ainda em formação universitária e que na verdade contrastava com a grande parte dos ocupantes dos cargos, geralmente pessoas de mais idade e sem formação superior.

Naquela época vivia a Secretaria da Fazenda uma verdadeira revolução nos processos e no comportamento e atitude do servidores, era uma época de grande efervescência e reboliço na casa. A matriz tributaria adotada era a do Imposto sobre Vendas e Consignações – IVC .

O meu pico de trabalho era intenso,durante o expediente procedia a fiscalização junto as empresas no sentido de verificar a escrituração fiscal das Guias de Entrada de Mercadoria e nas horas vagas trabalhava no transito verificando a movimentação de mercadorias sem documento fiscal, que ensejava a apreensão ou o recebimento imediato e pessoal do imposto devido, que imediatamente recolhíamos na Recebedoria da Capital e na ocasião recebíamos a nossa cota parte.

Na minha trajetória funcional ocupei , praticamente quase todos os cargos voltados para atividade fim desta casa – dirigi a AFEPLA, Assessoria Financeira , Econômica e de Planejamento; fui o primeiro coordenador do CEIFA – Centro de Informações Econômicas Fiscais, órgão que teve a incumbência de planejar e implantar o primeiro cadastro informatizado do IVC; ocupei o cargo de Coordenador da Receita, ao qual subordinavam-se as Diretoria de Arrecadação, Tributação e Arrecadação; dirigi a Diretoria de Tributação; ocupei o cargo de Secretario Adjunto, respondi pelo cargo de Secretário da Fazenda por vários períodos, fui representante do Estado junto a COTEPE por um longo período, iniciando esta minha representação quando da elaboração do SINIEF e tive atuação na elaboração da legislação do ICMS, derivada da Constituição de 1988 .( creio, ter sido um dos representantes com período mais longo de participação na COTEPE) .

Fora da Secretaria, talvez pelo destaque que ela me proporcionou, fui Secretario da Industria e Comercio,com a pouca idade de 28 anos ; ocupei a Diretoria Adjunta do CEAG – Centro de Apoio as Pequenas e Medias Empresas do Estado do Ceará, órgão que atualmente recebe a denominação de SEBRAE; fui designado pelo Presidente da Republica para ocupar o cargo de Diretor Geral Adjunto de Administração do DNOCS .

Faço este breve histórico extravasando um pouco do orgulho que tenho de ter sido um servidor fazendário. A esta casa devotei com muito entusiasmo e dedicação a minha inteligencia e o meu trabalho, devo-lhe uma grande gratidão, pois foi sendo um seu servidor que constituí a minha família , eduquei os meus filho e hoje já posso olhar os meus netos.

Nesta minha trajetória amealhei grandes alegrias, fiz grandes amigos e tive grandes momentos de felicidades. Seria omisso se não evidenciasse que recebi alguma ingratidões e tenha tido alguns momentos de tristeza, mas foram tão poucos que o tempo me ensinou a estorná-los

Fazendo a apuração deste meu período de trabalho na SEFAZ, devo dizer que saio com um grande saldo credor de alegrias e satisfações e por que não dizer com uma certa saudade da convivência com os meus colegas que se tornaram parte de mim. Levo de todos uma lembrança que ninguém poderá deletar da minha mente.

Devo também agradecer a Deus a graça que me foi concedida de poder ter sido um servidor fazendário e ter me havido nesta profissão com equilíbrio e dedicação. Neste momento me vem a lembrança um trecho da carta que São Paulo escreveu para o seu filho Timóteo -

... combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé...

Qualquer dia, qualquer hora, quando a saudade apertar entrarei nesta casa e passarei pelos corredores e pelas mesas, lembrando-me que em tempos atras fui protagonista daquele cenário.

Neste momento de despedida , não poderia deixar de fazer uso dos meus cabelos brancos e da experiencia que acumulei neste longo espaço de tempo e deixar uma mensagem para os meus colegas que ficam , especialmente aos mais novos – devotem a esta Instituição o melhor do seu trabalho e de sua inteligencia , sem esquecer que o entusiasmo e amor , de cada um , é fundamental para torná-la cada vez mais grandiosa , pujante e respeitada no cenário da Administração Publica Estadual.

Acho que já falei demais e neste texto em que exteriorizo os sentimentos que sou possuidor, quando encerro um segmento de grande importância da minha vida, gostaria de endereçar a todos os meus colegas fazendários o meu mais afetuoso abraço e meu agradecimento sincero da convivência que tive com vocês.

Do colega que sempre será um fazendário

João Alfredo Montenegro Franco